sábado, 12 de novembro de 2011

INTROSPECÇÃO

Lembra que faltando trinta dias para a minha partida eu te dei a chance de você me dar trinta motivos para eu ficar? E esses trinta motivos poderiam ter sido motivos banais, do tipo: “fica, porque você é uma pessoa bacana, sincera, sensata, fiel...”, e tantos e tantos outros motivos que poderiam ter sido listados sem o menor grau de complexidade que aposto que ultrapassaria os trinta motivos que lhe pedir.
Você também se lembra que faltando quinze dias para eu viajar, eu, idiota que sou, te dei a chance de você me dar quinze razões para eu cancelar a minha viagem? E mais uma vez poderiam ter sido razões mascaradas de egoísmo, sim, bastaria apenas você me dizer: “olha, não vá, eu preciso muito de você, muito mesmo. Quem é que vai me dizer que vale a pena viver quando tudo parecer perdido? Quem é que vai me dizer que tudo ficará bem quando nada parecer ter dado certo? Quem me falará de Clarice, Caio, Pessoa, Baudelaire, Freud, Skinner, Pavlov, as loucas das Ferreiro e da Teberosky, Capovilla, Paulo Freire, Mário Quintana? Sim, quem citará Renato, Cazuza, Carolina, Jesus Cristo, Paulo Coelho, Marley e Saramago? Hem, quem?”, e de certo que haveria mais, muito, muito mais razões a serem citadas.
Lembra que faltando um dia para eu viajar eu, desesperado, te dei a chance de você me dar um motivo para eu não ir embora? Já seria suficiente se você me dissesse que precisava apenas da minha companhia, e isso faria eu desarrumar as minhas malas, engavetar minhas roupas e correr direto para sua casa para comemorarmos, em sua cama, a viagem cancelada. Mas você não disse nada, nem um desejo de “boa viagem”, “vai com Deus”, sei lá, essas coisas banais que estamos acostumados a dizer quando pessoas que supúnhamos importantes para nós resolvem partir.
Agora, nesta fase na qual me encontro, nem se você me desse mil motivos para eu voltar, e mesmo que esses motivos fossem provados e comprovados pelas ciências das mais variadas áreas do conhecimento humano, testados cientificamente nos mais modernos laboratórios das mais renomeadas universidades do mundo, eu não voltaria. Nem se esses motivos estivessem fundamentados em teses, dissertações de mestrado, tratados internacionais, no Evangelho – sabe? – ou nas setenta e oito cartas do tarô, eu não poderia voltar. Não porque eu não queira. Não, não é isso. Mas é porque que eu fui longe demais, sabe? Não, você sabe. Aliás, não é somente você quem não sabe, e não se sinta inferior por isso: só quem já mergulhou dentro de si próprio sabe verdadeiramente o significado da expressão ir longe demais.

2 comentários:

  1. Você escreve muito meu amigo. Há verdade nas tuas palavras, e isso é o que mais gosto dos seus inscritos. Estarei sempre presente, mesmo que seja no mínimo espaço do teu coração.

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  2. Obrigado, Rose, pelo carinho de sempre, e saiba que você sempre estará em meu coração. Espero nunca falatr com a verdade, pois só a mesma nos liberta.
    Muito obrigado, mesmo.

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Assim que eu ler o seu comentário, responderei-o imediatamente. Grato pelo carinho.