segunda-feira, 30 de abril de 2012

HISTORIANDO-ME


E quem, nesse vasto mundo de Deus, escreverá a história que eu me recuso a escrever? Quem, além de mim, saberá começar uma história com fim, meio e início? Em qual inconsciente, além do meu, há de ter um bauzinho empoeirado repleto de heróis coloridos, princesinhas malvadas, vilões benéficos e coadjuvantes fantasmagóricos? Acho que só eu, somente eu, poderei escrever a história da minha vida.

ECLETISMO


Hoje finalmente cheguei à conclusão que sou eclético: de música indiana a samba, do samba a Raul Seixas, do Seixas à Pitty, do rock and roll ao hip-hop... Daqui a dez minutos, quem sabe, provavelmente estarei debruçado sobre algum livro de caráter científico, que fale de fonemas, morfemas, consciências fonêmica e fonológica, método fônico e a burrice pré-científica do método global, ou ainda consiga ir mais adiante, e talvez decifre, de uma vez por todas, e consiga traduzir, para o português, o “Les troubles de l'apprentissage de la lecture”, do Observatoire National de la Lecture de La France – tal feito seria realmente uma obra genial. Poucos entendem meu ecletismo, verdade? Mas quem disse que vim à Terra em busca da compreensão alheia? A minha suposta e limitada compreensão do meu “eu” já faz de mim cientista de mim mesmo. 

sábado, 28 de abril de 2012

EM PAUTA

A poesia correndo por entre as minhas correntes sanguíneas;
A marca da simploriedade tatuada em meu dedo anular direito;
Minhas mãos segurando uma ausência pegajosa;
O pensamento em tudo o que é dispersivo e tosco;
Por fim, uma descrença mórbida em tudo o antes eu julgava como verdades imutáveis.
Eis a minha lista memorável de tudo o que ficou depois que você se foi.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

FUGA


O arco-íris fugiu do céu:
Foi parar na bandeira.
A bandeira, mesmo colorida,
Não pode comportar todas suas cores:
Agora ele vive também na poesia.
Esta, porém, mesmo policromada,
Continuar a jorrar palavras monocromáticas.
Fazer o que, né?
Nem tudo são flores...
Muito menos cores.

domingo, 22 de abril de 2012

INFELIZMENTE


Talvez você tenha razão, e minhas atitudes de agora não passem mesmo de egocentrismo, infantilidade e melodramas.
Talvez minha mãe tenha razão, e meu egocentrismo, infantilidade e melodramas não passem de proteção demasiada, ciúme ao extremo e uma boa dose de autoritarismo.
Talvez meu primo de oito anos tenha razão, e minha proteção demasiada, meu ciúme ao extremo e minha boa dose de autoritarismo não passem de recusa ao game over, finish e the end.
Talvez meus amigos tenham razão, e minha recusa ao game over, finish e the end não passem de inveja, solidão desmedida e indiferença.
Talvez – INFELIZMENTE – meu coração tenha razão, e minha inveja, minha solidão desmedida e minha indiferença não passem de afetividade excessiva, amizade colorida ou, o que eu mais temia...: amor. 

terça-feira, 17 de abril de 2012

ALIENAÇÃO


Penso que o problema MAIOR não é ser ou estar alienado, mas compactuar ou defender aquilo que, de certa forma, lhe aliena. Até porque alienados, quase todos nós somos, desde o dia em que nossos pezinhos tocaram o solo do capitalismo, e a engrenagem deste não funcionaria com tamanha perfeição se não existisse o tripé que lhe sustenta: alienador + alienação + massa alienável = dinheiro. Entretanto, a consciência da existência de algo que lhe oprime pode ser considerado o primeiro passo em direção à liberdade, todavia vale ressaltar que não se pode fazer uma grande caminhada com apenas um passo, e a liberdade nada mais é do que uma grande caminhada rumo a independência de ideias, ações, metodologias, palavras...

domingo, 15 de abril de 2012

BRINCADEIRA


O amor brincou comigo,
Com brinquedo e sem brinquedo,
Com amor e sem amor.
Brincamos. Brigamos.
Brincadeiras acabam em brigas?
Nem todas, mas a nossa acabou.
Brincar... Como era bom brincar!
Brincar de brinquedo?
Não, brincar de fazer amor!
Brincávamos todas as horas;
Brincávamos de tudo:
De pega-pega e de esconde-esconde.
Eis o nosso grande erro:
Termos brincado de esconde-esconde.
E de tanto nos escondermos,
Acabamos nos escondendo...
Brincar... Como era bom brincar!
Brincar na cama era melhor ainda,
Com roupa e sem roupa,
Com tempo e sem tempo,
Como cordeiro e lobo.
O amor brincou comigo,
E aprendi que brincando se aprende.

sábado, 14 de abril de 2012

COGITO, ERGO SUM


Atividade demais é tão perigosa quanto à maior das passividades, visto que em ambos os casos corre-se o risco de se perder a cabeça. Contudo, perco a cabeça e o que quer que seja, mas jamais abrirei mão de uma boa crítica ativa, principalmente se esta vier engajada em fundamentos racionais e plausíveis, porque de que vale a cabeça de um homem se esta não poder pensar por si só

sexta-feira, 13 de abril de 2012

OUSADIA


Não serão a sua profissão nem muito menos sua formação acadêmica que farão de você grande ou pequeno no sentido econômico-social, mas sim o tamanho de sua ousadia, ou mesmice, perante elas. Portanto, cuidado com a mesmice podadora e desenfreada, entretanto não se preocupe em pôr rédeas em sua ousadia e criatividade: elas poderão lhe mostrar aquilo que os grandes batizaram de PER-FEI-ÇÃO. 

quinta-feira, 12 de abril de 2012

ESPERANÇA SEGUNDO QUINTANA


Na quitanda do Mario Quintana comprei um poema, e dos bons, desses que falam de esperança. Ele vem me alimentando até os dias de hoje, sei-o de cor, e, às vezes, transformo-me paulatinamente no desespero da louca de quem o poema fala – principalmente quando encontro-me triste, porém fascinado, com a tristeza e fascinação da vida.
Agora, ao escrever essas palavras, sinto-me como se estivesse no mesmo décimo segundo do andar do Ano descrito no poema, e também me atiro por uma sacada qualquer em direção a alguma coisa que não sei bem o que é, e sinto o quão delicioso é este vou em que vou, porque também penso já ter escutado todas as sirenas e todas as buzinas e todos os reco-recos.
E lá embaixo, também sou encontrado miraculosamente incólume na calçada, e, novamente, mais uma vez criança... E as pessoas, à minha volta, indagam minha existência:
– Quem és tu, meninozinho de olhos verdes?
E eu lhes respondo, devagarzinho, para que jamais se esqueçam:
– Meu nome é ES-PE-RAN-ÇA.
Tenho a consciência de que possuo olhos castanhos, mas agora, nessa hora, as palavras os pintaram de verde, mas não um verde comum: é verde cor-de-esperança. Tenho a racionalidade de que nem todos são capazes de compreender tal mágica oftalmálgica, entretanto não questiono a gestalt alheia, pois os que conseguem vislumbrar-me pelo poema de Quintana, sabem do que estou falando...

quarta-feira, 11 de abril de 2012

INALIENADO


Se quiserem me chamar de presunçoso, tudo bem, no entanto eu jamais me renderei aos deuses pedagógicos cultuados por vocês, embora eu devo admitir que essa minha atitude deve soar, para muitos, como fruto da presunção.

terça-feira, 10 de abril de 2012

O ENSINO-APRENDIZAGEM DA INÊS



Era uma vez...,
Uma garotinha chamada Inês.
Ela gostava de jogar bola
E também ir para a escola.

Um dia ela viu na televisão
Uma reportagem sobre a poluição.
E foi então que ela decidiu
Que contaria a professora o que assistiu.

Chegando à escola, no outro dia,
A Inês contou para a tia Maria:
– Não se pode jogar papel no chão
Porque os bueiros entopem e causam inundação!

E a partir do que a Inês lhe contou,
A professora, com muito carinho, explicou:
– Hoje a tia irá ensinar a vocês
O que me ensinou a coleguinha Inês.

– Silêncio – falou a tia. – Não façam barulho!
Pois irei explicar-lhes sobre a nossa cidade Guarulhos.
Os alunos prestaram bastante atenção
Para depois fazerem uma pequena lição.

A tia Maria ensinou com muito capricho
Que não se pode jogar, nas ruas, o lixo.
Não devemos contribuir para a poluição
Porque na natureza causa destruição.

Todos os coleguinhas aprenderam com alegria
O aprendizado da Inês e da tia Maria.
E depois de ouvirmos esta história linda,
Vamos manter a cidade limpa?

domingo, 8 de abril de 2012

MILAGRES HUMANOS


Milagre não foi Cristo ter ressuscitado ao terceiro dia, e sim termos convertido o seu sangue em ovos de chocolate.
Milagre não foi Cristo ter dado visão ao cego e movimentos locomotivos ao coxo, e sim termos nos movimentado em prol da cegueira que transformou o Cordeiro de Deus em coelhinho da páscoa.
Milagre não foi Cristo ter multiplicado pães e peixes para a multidão que O seguia, e sim termos dividido a nossa falta de caridade com aqueles que estão à nossa volta.
Milagre não foi Cristo ter transformado água em vinho nas bodas de Caná, e sim termos transformado este mundo em um mar de pessoas desertificadas.
Todos esses milagres humanos me levam a crer que, de uma forma ou de outra, nossas ignorância tem nos transformado em pequenos deuses presunçosos, embora saibamos que a presunção não é uma característica inerente à divindade.
É..., somos deuses no pedestal da ignorância!

terça-feira, 3 de abril de 2012

COISAS DE MENINO


Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse a poesia, seria como um palhaço com um sorriso pintado de gauche nos lábios, porém sem alegria.
Ainda que eu me calasse diante das más línguas que me difamam, e não fosse feito do pó da poesia, seria como um verbo mal conjugado julgando o Verbo que me julgará um dia.
Ainda que eu possuísse um título de ph.D. voltado para a filosofia da comunicação, e não soubesse falar de poesia, eu nada seria.
A poesia é exorcismo, é alquimia; a poesia não está restrita aos acadêmicos, mas pertence a todos aqueles que lavam as palavras lavradas de magia.
Não se cala na presença de reis, mas Reis se cala em sua presença.
Tudo sofre, tudo crê, tudo narra, tudo espera, tudo suporta.
A poesia nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; mas ela continuará intacta.
Porque, em parte, conhecemos, e em parte poetizamos, mas quando vier o Poeta que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, sonhava como menino, criticava como menino, escrevia como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, graças a Deus que eu continuo com as coisas de menino.
Antigamente víamos o corpo da poesia restrita nas páginas dos livros, mas hoje podemos curtir o book de sua face no Facebook.
Agora permanece a tecnologia, a ciência e a poesia, estas três, mas a maior destas é a poesia.