quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

OREN HASSON


Choro por mim, por ele e pela mãe dele. E também pelo pai, pelos filhos e pelos espíritos e santos.
Choro por mim por não ter alcançado, ainda, o estado de espírito no qual não será mais preciso chorar. Choro, sobretudo, porque me dei conta de que ainda me importo, e por me importar não consigo fazer outra coisa a não ser isso.
Choro por ele porque ele chora por mim e pela mãe; porque não sabe transitar por esta encruzilhada a não ser vertendo lágrimas, quando, na verdade, só é preciso uma tesoura e coragem, para cortar o cordão umbilical que os liga. Choro por ele porque ele é um menino e meninos choram, e homens também; choro porque eu não queria vê-lo chorando, embora eu mesmo o faça chorar.
Choro pela mãe dele porque destruímos, com um só golpe, o seu sonho cristão. Choro porque ela tem medo e chora calada na calada da noite, sem ninguém para enxugar suas lágrimas. Choro porque involuntariamente sou responsável por seu choro, ainda que intimamente eu não carregue esta culpa.
Choro também por Deus, que nesse momento rir de nós, ao descascar cebolas. Choro por Deus porque ele é fraco, e tal como um vírus, precisa de um hospedeiro para se reproduzir. Choro porque ele poderia ter chorado um pouco mais, o bastante para afogar Noé, o patriarcado e a sua arca heterossexual.
E choro, por fim, pela humanidade, que de tanto chorar, secou-se.