domingo, 27 de novembro de 2011

ESQUIZOFASIA

Hoje eu descobri a terra que Colombo jamais ousara procurar, onde habita um índio cuja natureza assemelha-se ao de um caranguejo e o seu nome me lembra aspereza. Após descobrir a existência de tal lugar, eu chorei como choro ainda agora, ao escrever estas palavras.
Eu não pretendia revê-lo nunca mais, e por isso o prendi em uma terra desconhecida, jamais habitada a não ser por histórias surreais, mas meus sonhos me levaram até lá novamente, e juro a você que, inutilmente, eu tentei acordar...
Reviver nossos momentos, recalcados em meu inconsciente, fez-me pensar que eu não deveria estar pensando aqueles tipos de pensamentos, afinal tudo não passou de um sonho que durara pouco mais de três anos.
“Mas a realidade é mais palpável, durável, estável...”, poderia alguém me dizer esta gama de palavras, terminadas em “ável”, para me consolar. Entretanto, polêmico como eu sou, eu revidaria dizendo que isso sempre dependerá da intensidade em que o sonho fora sonhado.
Despertei-me hoje cedo deste sonho de sonhar que tudo fora apenas um sonho, mas para que a realidade não seja tão dura com meus devaneios, a ponto de, por exemplo, impedir-me de sonhar, eu deitarei mais uma vez em minha cama, e mais uma vez eu porei minha cabeça sobre o travesseiro – ou será o travesseiro sobre ela? Não sei. E a sua maciez fará lembrar-me do quão confortável é o sonho de sonhar que tu também sonhas que eu sonho contigo, e essa infinidade de sonhos – os sonhos são infinitos! – derramará uma porção de lágrimas sem sentido, ou talvez tenha sentido, sim, já que as mesmas espalharão o meu sono e farão lembrar-me do índio inesquecível.
Perdoa-me, meu pequeno canibal, mas eu ainda não consegui acordar este meu sonho que sonha com a minha presença em tuas instâncias psíquicas, para que a psicanálise, um dia, quem sabe, possa me confortar ao dizer, mesmo que em sonho, que tu também sonhas comigo. E assim eu poderei escrever a nossa história que começa mas que não termina nunca, porque este sonho é sonho de sonhador, e o meu grande sonho é escrevê-la assim:
Sonhei que eu era um sonhador que navegava em busca da terra dos sonhos e que jamais a encontraria se não procurasse nos olhos castanhos de um selvagem que também, por coincidência, era um devaneador.
Este ser de pele morena, cabelos negros – não como as asas da graúna, mas como o sangue da minha alma –, voz uivante, torso forte e quente despertara em mim certo tipo de “sonhosoquismo”.
Sem saber, mas ao mesmo tempo já sabendo – porque sou eu o narrador –, ele também sonhava em fazer algumas esquisitices com meu corpo e com o meu coração – para ser mais sincero, mais com o meu corpo, porque com o meu coração ele já fizera –, e em seu sonho eu era um deus que habitava as esferas dos seus desejos, carregava cinco bandeiras – sendo a colorida a mais pesada –, falava como um trovador, pensava como um filósofo, agia como um filantrópico e sonhava como uma criança rousseauniana – e não como um adorador de Mamom. E em todos os seus sonhos eu aparecia com um par de asas (mas eu não era um anjo, já disse, era um deus), asas essas compradas na Vinte e Cinco, e as mesmas enrijeciam o meu sonho que, fisicamente, era dele, mas que poderia ser nosso se eu o deixasse ser levado até as estrelas...
E mesmo que eu não ponha um ponto final na história que algum dia escreverei, porque na verdade ela não tem fim, eu ousadamente farei um pós-escrito, dizendo: “hoje eu pari um filho, cuja alma possui a mesma cor dos olhos do índio em que um dia eu sonhei...

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