Éramos
quatro. Como podem duas míseras palavras pesar tanto? Não sei. O que sei é que
éramos quatro, e formávamos uma espécie de quarteto acadêmico fantástico:
Jéssica, a Alice anarquista; Jordana, a versão feminina do Johnny Depp; Cátia
com “C”, a Gadú romerobritana; e, por
fim, eu, o bebê da mamãe saramaguiano.
Bem..., na semana
passada foram eliminadas duas integrantes do BBB CEU Ottawa: a Jé e a Jô. Ontem,
para dilacerar ainda mais o meu pobre coração partido, foi a vez de a Catita
dar adeus ao sonho de ler um milhão de livros, e assim, restou apenas eu...
Ganhei o jogo? Não, ganhamos! Vamos à premiação...
A Alice me
ensinou uma porção de coisas incríveis, entre elas preparar um coquetel
molotov, a ideologia de Bakunin, as ideias de Lenin, Bourdieu, a filosofia da
astronomia, as “lendas urbano-científicas” da região do Triângulo das Bermudas,
a como me posicionar diante de um colóquio, a comemorar os infortúnios da vida e,
o mais importante, a maior descoberta histórico-geográfica do milênio: ela
achou Atlântida! Sim, a Atlântida, o continente perdido – heureca!
Nota de
rodapé: eu estava ao
lado dela no exato momento do achado continental, e só eu, apenas eu, dei
crédito a sua descoberta milenar, bem como apoio psicológico a mais nova
pedagoga-geográfica, pois, acredite: a Jô, no presente momento da descoberta, estava
tirando fotos para a posteridade (a expressão “tirar fotos para a posteridade”
ela aprendeu com o Che Guevara, no filme “Diarios
de Motocicleta”), e a Cátia com “C”, com o seu senso de realidade
estonteante, estava construindo um painel gigantesco (clique aqui para vê-lo)
para a Escola da Família, tendo ainda a audácia de dizer, rindo, o que é pior, RINDO da pobre Jéssica: “filhinha,
acorda, é só uma área submergida!”. Quase que as duas ingratas, Jordana e Cátia
com “C”, demoveram a Alice da sua descoberta, mas as provas que ela dispõe são
concretas e muito em breve as apresentará à humanidade, por hora segue com a
parte burocrática de patenteação e demarcação territorial.
A Jéssica
ainda me ensinou algo genial: a capital da Argentina não é Buenos Aires, como
eu acreditava até certo tempo. Claro que não, nunca foi! Na verdade, é a fóvea.
Sim, a fóvea! E lá, quer faça sol, quer faça chuva, sempre faz 15º.
Devo ainda
relatar que, no que diz respeito ao meu “preateísmo”, a Jéssica tem uma parcela
de culpa incomensurável, embora eu admita que o Saramago já vinha abrindo os
meus olhos a algum tempo. Contudo, ressalto que ainda há muito mais coisas a
aprender com ela, como, por exemplo, cantar o Hino da Rússia, em russo, claro!
No que tange
à Jordana, esta, por sua vez, ensinou-me muitas coisas engraçadas, mas
utilitárias: aprendi que se uma pessoa estiver entrando em coma alcoólico, tenho
duas alternativas para socorrê-la: ou eu aplico a técnica do Yakult – infalível! – ou a terapia do banho
com água gelada – esta é bem popular, por sinal, mas a Jô me ensinou a
aperfeiçoá-la e jamais ceder aos pedidos de um bêbado, mesmo que este seja o meu
melhor amigo.
Ensinou-me,
também, a ter mais coragem, muita coragem, até porque para chamar um PM de
fascista é necessário de duas, uma: ou ser corajoso ao extremo, o que pode ter
implicações posteriores, ou possuir diagnóstico de esquizofrenia – no caso
dela, só falta o laudo, risos.
Aprendi com
ela, bem como também com a Jé, as técnicas essenciais – desnecessário dizer que
imprescindíveis – de um bom e verdadeiro grevista, como confeccionar cartazes, fazer
o CIL de ateliê, marchar durante horas, gritar em Brasília, quebrar muros,
queimar barricadas, invadir a diretoria, ocupar o campus, pichar muros, chamar o reitor de incompetente, enfim, essas
coisas básicas e singelas consequentes da experiência direta e ativa nas mais
importantes greves universitárias nacionais.
Com a Cátia
com “C” eu aprendi a cantar “Volevo un
gatto nero”, “Tutto non fa te”, “Ti dico ciao”, “Speranza”...
Aprendi que
ser flexível, na vida e no trabalho, às vezes é necessário; aprendi a fazer
origamis, flores de papel crepom, desenhos vários... Aprendi que você pode melhorar
sua didática em 3, 2, 1, já!
A Catita me
ensinou os três passos para reconhecer um “muleke piranha”, e também me ensinou
a rimar mesóclise com Camila, a “florir” relatórios de estágio, a gostar dos
Piratas do Caribe e a produzir cartilhas alfabéticas em LIBRAS.
E o que
ensinei a elas? Não sei, mas acho que conseguiram absorver alguma coisa de alfabetização,
alguns conceitos básicos de neurociência (a caixinha das letras), método
fônico, Capovilla, Instituto Alfa e Beto, Stanislas Dehaene, Newton Duarte, a
sedução do discurso construtivista, minha postura “tradicional” e tantas outras
coisas que não me recordo agora.
Aprenderam
ainda, e isso é muito importante, que não se deve subestimar as mães,
principalmente quando sorrimos para elas com dentes vampirescos (risos).
Sinto falta
delas, mas sei que estão bem: a Alice provavelmente deve estar à procura do
coelho branco, e já consigo até imaginar as suas bolsinhas salivais no momento
em que ela o encontrar; A Jô, pós-modernismo em pessoa, ou, em suas próprias
palavras, fenômeno contemporâneo, deve estar treinando uns novos passinhos de
dança para competir com os seus amigos “psyleiros”; a Cátia com “C”
possivelmente pode estar enfeitando sua árvore de natal gigante, com flocos de
neve (CLARO!), e pensando em um novo trabalho (ÓBVIO!).
Sinto falta
da Gadú, principalmente quando a Rita surge na porta, com seu sorriso macabro,
afinal ela me fazia companhia quando a mãe da Otáwia (eu nunca vou me esquecer
do dia em que a Rita “adotou” a pequena Otáwia) começava a nos contar as suas
odisseias incríveis, incluindo os mistérios da Bolha (bolhas, bolhas, voltem,
bolhas! Minhas bolhas!).
Na verdade, tudo
o que aprendi se resume em poucas palavras, ei-las aqui presentes: AS PESSOAS
SÃO UM LEQUE DE SURPRESAS.
14 de novembro de 2012