Em
memória de Jorge Amado.
Jamais
aponte o dedo na cara da ferida-humana e diga “você é o culpado!”. Ora, como
disse, é só uma ferida, quase sempre inflamada, putrificada, a jorrar pus na
cara da gente.
Este
teu dedo apontado, suponho que o indicador, impede-te de ver a gênese do
machucado, as balas perdidas, os insultos achados, as pauladas pedagógicas ganhadas
a troco de nada e o olhar frio e usurpador dos verdadeiros culpados.
Agora,
que já sabes o outro lado da verdade – porque a verdade é multifacetada –,
aprende, de uma vez por todas, e sem drama, que temos nossa parcela de culpa na
produção de chagas-humanas.
Lembra-te,
sempre que possível, sempre que a pós-modernidade esquecer de te engolir, que
os ditos métodos corretivos aplicados pela “Justiça”, as casas de recuperação,
os reformatórios e os abrigos de reclusão social nada mais são do que
indústrias a fabricarem feridas-sociais das quais te falo.
Cuidado,
muito cuidado com o teu dedo apontado. Não te esqueças, em hipótese alguma, que
nada mais são do que feridas malogradas, não passam de reles machucados – às
vezes putrificados, sujos, abandonados, ausentes de carinho, desconhecedores da
compaixão, vítimas de seus próprios crimes praticados, mas sempre machucados.