segunda-feira, 29 de julho de 2013

A BASE

À Cicera da Silva Pereira
E ao Antonio Carlos de Souza.



Quero escrever algo sólido.
Traçar, sem métrica,
A mais concreta poesia;
Com palavras e tijolos,
Com lutas e alvenarias
Será erguida, aos poucos,
A Pedagogia das pedagogias.

Peguem os livros, as foices e os martelos!
É preciso, com sabedoria,
Desnaturalizar o que é histórico
E destruir a tragédia e a farsa
Que nos transformaram em mercadorias.

Apanhemos nossas bandeiras!
Hasteemos a nossa causa!
Desmistifiquemos a “liberdade”:
Queremos igualdade!

O caminho já foi apontado;
Pelas barbas de Marx,
A conjuntura há de ser favorável;
E os escravos, paulatinamente,
Descobrem o valor do seu trabalho.

Por isso, canto.
Um tanto sem ritmo,
Um tanto descompassado,
Com certa pressa e alegria,
A canção que eleva o espírito,
Que enaltece a alma
E liberta o corpo da mais-valia.

Também danço, com euforia,
Ao som dos meios de produção
Que um dia cantarão nossa sinfonia.

Marcho, com a vanguarda,
Em defesa da unidade classista
E em conquista da terra sagrada.

Grito, com alguns rabiscos
E muitos pobres e muitos riscos,
Os primeiros passos rumo à alforria:
REVOLUÇÃO E UTOPIA!
E se não entenderam, vou repetir:
QUE CAIA LOGO A BURGUESIA!


terça-feira, 2 de julho de 2013

O MURO

Estou em cima do muro. À direita, encontram-se as migalhas que sobraram da última colheita; à minha esquerda, só uma certeza: a incerteza me certificará.
O incerto e o injusto me fizeram optar pelo irreversível, e, embora não tenha dado o primeiro passo, já não posso mais regressar, pois, nesta dança, o caminho escolheu os meus pés como seu par.
Aos poucos tudo o que era sólido se põe a derreter, inclusive a solidão, que era tão palpável outrora, e se liquidifica, agora, sobre a palma da minha mão.
Meu castelo de areia há muito se desmoronou, soterrando, em seus escombros, os contos do meu avô; nas masmorras do meu coração, nem vestígios de prisioneiros, só riscado, a carvão, o nome do pioneiro; os súditos que o habitava, perderam totalmente a graça; e até mesmo minha coroa tem ciência da minha desgraça.
Amigos? Conta-se nos dedos. Verdades? Restaram as inacreditáveis. Sonhos? Só os risonhos. Lema? Não se apegar a emblemas. Lar? Acho que ficou para lá. Amor? Nenhum sinal de dor. Bandeiras? Uma colorida e outra vermelha.
Eis que é chegada a hora de tomar partido: o caminho se encontra bipartido; o muro, que a pouco me suportava, derrete-se à medida que o tempo passa, e sua liquidificação não suporta indecisão.
Meu GPS político traçou a rota subsistente: à esquerda e em frente..., sempre!