quinta-feira, 7 de maio de 2015

CANSADO



Estou cansado
Das mentiras,
Das inverdades,
Das discussões,
Dos discursos,
Do curso,
Da vaidade.

Estou cansado
Da fala mansa dos ladrões,
Do nosso silêncio demente,
Da lousa que derruba cifrões,
Da fé tola dos crentes,
Do giz que explode canhões,
Do guache demasiado inocente.

Estou cansado
Das renúncias,
Das quimeras,
Do espírito sem ação,
Da esperança que não me espera.

Estou cansado
Da Justiça trocada por mercadoria,
Do direito contrabandeado,
Da corrupção nossa de cada dia
E do pão que brota dela 
Por todos nós amassado.

Estou cansado...
Tudo é comércio,
Tudo é mercado.
Minha alma gripada grita por gente
Mas gente é força de trabalho.

Estou cansado
Da exposição de gráficos,
Da manipulação de dados,
De estatísticas estéreis,
De preencher formulários,
Do papel complacente,
Dos laudos.

Estou cansado
Da caneta que vai salvar o planeta,
Da secretária do Secretário,
Da política e sua punheta,
Do analfabetismo legitimado:
Meu cu também é pré-silábico.

Perdoe-me o baixo calão,
É que estou cansado...
Da alfabetização,
Dos homens casados,
Dos armários no armário,
Dos héteros que beijam veado,
Das falas,
Das filas,
Do falo.

Estou cansado
Desta esquizofrenia,
Da injustiça forjada em aço,
Da burocracia,
Do maço de almaço,
Das escolas,
Das esquinas,
Das esmolas,
Da purpurina,
Dos meninos,
Das meninas,
Do papel timbrado,
Da Dona Carochinha,
Do Estado.