domingo, 26 de maio de 2013

= ?

Numa sociedade desigual,
Os desiguais ignoram a igualdade.
E para que que ela serve mesmo?


domingo, 19 de maio de 2013

ATIVIDADE DO N


Ontem, 18 de maio de 2013, Julia trouxe aqui para casa o seu livro do Instituto Alfa e Beto (IAB), que, por sinal, é um excelente (e barato!) material para a alfabetização de crianças.
Contrariamente ao que pregam os construtivistas, as “cartilhas” fônicas, como é o caso desta do IAB, levam as crianças, sim, a adquirirem “autonomia” – na verdade, acredito serem estes materiais os mais adequados para este quesito, pois, depois de fazerem as primeiras atividades, as crianças conseguem fazer sozinhas as outras, haja vista que as mesmas são organizadas de maneira que se respeite o desenvolvimento cognitivo das crianças e o seu conhecimento “prévio”, como na Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) vigotskiana.
Este ano eu comprei três livros do IAB para ela, os quais pertencem à mesma coleção: Grafismo e Caligrafia.
É um material riquíssimo e, pelo menos para mim, muito bem elaborado.
Julia já está no segundo livro, o primeiro levou menos de dois meses para fazê-lo completamente, e o último contempla o ensino das letras cursivas, o qual exige um pouco mais de coordenação motora.
Estamos, eu e a minha irmã, contentes com os resultamos que Ju vem obtendo; contentes pelos exercícios que, mesmo “mecânicos” (e isto reconhecemos), não têm levado-a ao desinteresse; contentes, enfim, com seu desempenho perante as atividades de leitura, escrita e de manipulação consciente de fonemas.
Convém ressaltar, por fim, que não estamos restringindo seu ensino e sua aprendizagem apenas ao material do IAB, mas também lhe propondo desafios que levam em consideração às práticas sociais de leitura e escrita – tão comumente difundidas no país sob o mote de “letramento”. No entanto, tais atividades quase sempre se dão de modo espontâneo, por parte da própria Julia, o que não condeno, pelo contrário, até reforço, mas isto não implica ignorar as evidências científicas que comprovam a eficácia do trabalho com a consciência fonológica e com a explicitação das relações grafema-fonema, durante o processo de alfabetização, para a apropriação do princípio alfabético.     
Abaixo se encontram anexadas algumas fotos da atividade realizada ontem.


(TCC)




sexta-feira, 17 de maio de 2013

DITADO SEM DITADURA: É POSSÍVEL? SIM!

Hoje à tarde, Julia esteve aqui em casa – na verdade, Ju vem aqui quase toda hora –, e, como sempre, pegou uma folha de caderno que estava em cima da minha escrivaninha e começou a desenhar. Como eu sei que a sua mãe está lhe ensinando a família silábica do b, eu, mexendo no computador, falei, brincando:
– Ju, como é b com a?
Ela, rapidamente, respondeu:
– Ba!
Beleza, até aí tudo bem, afinal ela “memorizou” (como diria os construtivistas de plantão) a família do b. No entanto, resolvi desafiá-la um pouco mais:
– E t com u?
Sem muito pensar, ela falou:
– Tu.
Achei intrigante o despertar de sua consciência fonêmica, e as respostas dela me deram tanta euforia que resolvi bolar uma atividade em cima da hora, sem muito planejar.
Levantei-me da cama, peguei uma folha de sulfite, dei-lhe um lápis de escrever e pedi que se sentasse na cama para fazermos uma atividade. De pouco em pouco, comecei a digitar palavras no meu computador, palavras de conversão grafofonológica simples, admito, mas desafiantes para sua idade.
A primeira palavra foi boi. Embora tal palavra seja um monossílabo, resolvi separar suas letras, de modo que a mesma, após ser fragmentada, ficou assim: bo   i. Não foi muito difícil lê-la, na verdade, foi até fácil, porque ela quase que leu sozinha, e isso por meio da decodificação (soletração).
Após ler (e não adivinhar) a palavra boi, pedi que a copiasse na folha de sulfite que lhe dei, e isso ela fez com maestria (risos). E assim se deu boa parte da atividade. Contudo, nas últimas três palavras do ditado, pedi que ela própria as digitasse no computador, letra por letra, sílaba por sílaba, até porque não vejo nada de mecânico nisto.
A atividade foi um sucesso, pois conseguir alcançar o objetivo principal que pretendia: descobrir se as instruções fônicas que estamos lhe dando estão surtindo bons resultados.
Percebi que, aos poucos, Julhinha está adquirindo o princípio alfabético, pelo menos está começando a conseguir fazer relação grafema-fonema, embora ainda rudimentar, mas que é normal para uma criança de quatro anos de idade.
Com esta atividade também detectei um problema: os fonemas p, b, t e d são muito parecidos entre si, no que diz respeito à articulação, e isso a confundiu bastante, porém chamei a sua atenção para cada um deles, enfatizando os sons de cada um e juntando-os com todas as vogais.
Ao final, ela perguntou-me se podia desenhar no restante da folha, e como a atividade era sua, respondi-lhe que sim, que podia fazer o que quisesse com ela.
Quero deixar registrado aqui mais um fato que não é novo, porém, em tempos em que não se sabe distinguir construtivismo de pós-modernismo, é mais do que válido lembrar: a escrita é um objeto social, e, como tal, possui suas regras e convenções; sua aprendizagem requer instrução e explicitação, e, como diz Klein (2012),

o contato da criança e sua ação sobre os símbolos da escrita, ainda que esses símbolos estejam organizados correta e significativamente como linguagem, não garantem, por si sós, que a criança aprenda a linguagem escrita. Isto porque, nesta circunstância, o aprendiz estará diante de um punhado de “coisas” que não configuram a linguagem escrita. É preciso que haja homens utilizando de forma real essa linguagem, para que ela se configure enquanto tal (Op. cit., 2012, p. 109).

Que as pessoas jamais se esqueçam disto!
Abaixo encontram-se anexadas algumas fotos que tirei durante a atividade:










(Odeio modismos, ainda mais os "pós-modernos", no entanto ela insistiu que queria o "coraçãozinho", mas já estou cogitando a possibilidade de "letrá-la", a partir, no entanto, da dialética marxista) 







REFERÊNCIA: 

KLEIN, Lídia Regina. Alfabetização: quem tem medo de ensinar?. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2012.

sábado, 11 de maio de 2013

DIA DAS MÃE PEDAGÓGICO


Ontem, 10 de maio de 2013, eu comentei com a Cicera que ia chamar Julia para escrevermos uma carta do Dia das Mães. A Ci, aproveitando o nosso projeto de pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso (A Alfabetização Construtivista na Contramão do Ensino: uma análise política e pedagogia dos PCNs), incentivou-me levar Ju a escrever duas cartas: uma de modo convencional (a partir da cópia) e outra por meio da escrita espontânea (tendo como marco teórico A Psicogênese da Língua Escrita).
Pois bem, foi isso o que fizemos hoje pela manhã: liguei para Ju assim que ela acordou e contei-lhe do “projeto” (ela, por sinal, adora essa palavra), meia hora depois Julia já estava aqui em casa, com todo o ânimo.
Vale destacar um fato intrigante: minha irmã e Julia estavam trancadas dentro de casa, isto porque meu cunhado saiu para trabalhar e levou a chave dela, portanto, Ju teve que sair pela janela da cozinha, mas isso não atrapalhou em nada a nossa proposta de escrita: um cartão para o Dia das Mães.
A primeira etapa da confecção do cartão ocorreu como eu supunha, em exceção a um personagem do desenho, pois Ju desenhou também o avô dela, isto é, meu pai, o qual ela não chegou a conhecer (dia 30 de maio fará doze anos que ele faleceu).
Na verdade, eu gostaria de destacar três aspectos do desenho dela: o primeiro é a face do sol (quando eu era pequeno eu também o desenhava com olhos, boca e nariz, e isso eu acho muito lindo); o segundo diz respeito à flor, às nuvens e ao coração, pois eu não lhe dei nenhum modelo e ela desenhou de modo bem parecido; e, por fim, a família, a saber, ela desenhou seis personagens: a mãe, o pai, ela, a avó, o avô e eu, isto é, minha irmã, meu cunhado, ela, minha mãe, meu pai e eu, todos de mãos dadas (isto me recordou o poema do Drummond, de sua obra Sentimento de mundo, o qual diz: “O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”).


Depois que Ju terminou de desenhar a capa do cartão e escreveu o seu título (a partir, no entanto, da cópia de um modelo que eu lhe ofereci), partimos para a escrita do conteúdo do cartão: um lado foi reservado para a escrita espontânea, e o outro para a escrita alfabética.
Começamos pela escrita psicogenética, isto é, pautada nas pesquisas de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. Nesse momento, eu lhe perguntei o que ela gostaria de dizer à mãe dela, e ela me respondeu o seguinte:
– Mamãe, eu te amo, um beijo e uma flor.
Pois bem, pedi-lhe que escrevesse tal mensagem; primeiro ela hesitou, dizendo-me que não sabia escrever, mas depois de eu insistir, começou a imitar uma escrita convencional em letras cursivas, embora tenha assinado seu nome em letras de forma, tal como ela já aprendeu e memorizou.


Quando eu lhe pedi que lesse, houve uma confusão semântica, pois, onde supostamente estava escrito um beijo e uma flor, ela, ao “ler” para mim, disse-me que estava escrito beija-flor. Quando pedi que relesse, ela, como uma boa capricorniana, gritou:
– Já chega, Adivaldo!
A escrita convencional foi um pouco mais demorada, embora ela conheça bem as letras e já saiba reproduzi-las. No entanto, houve dificuldades para escrever o número dois (2), mas eu lhe ensinei, em outro papel, o desenho deste numeral, e, após algumas tentativas, ela conseguiu copiá-lo.


Depois, ao terminar de escrever, ela pediu-me que lesse, e, quando eu terminei de ler, ela perguntou:
– Cadê o beijo e a flor?
Eu lhe respondi que não tínhamos escrito, mas que ela poderia desenhá-los, aí ela desenhou uma flor, um coração (já que me disse que não sabia desenhar um beijo), e, seguindo o ritmo do entusiasmo, desenhou, novamente, nuvens e o sol “humanizado”.
Além do cartão, que foi o objeto central a ser produzido, esta intervenção pedagógica me fez perceber que, nesse caso, pelo menos com Julia, a cópia não traumatiza e não impede à espontaneidade, apenas molda uma escrita padrão. No entanto, quero deixar bem claro que a escrita espontânea é muito importante para o desenvolvimento criativo das crianças e para exporem, por meio de desenhos e de traçados, as suas emoções. Contudo, embora a escola possa, e deva, utilizá-la em diversas atividades, cabe a ela, também, ensinar a escrita convencional desde cedo, pois é a mesma que será cobrada mais adiante e é a partir desta que a escrita ganha seu caráter inteligível.
Embora eu defenda os preceitos do método fônico e não goste das propostas didáticas difundidas pela perspectiva psicogenética, por uma série de fatores que não convém relatar aqui, acredito que as pesquisas de Ferreiro, Teberosky e seus colaboradores são de grande valia para se compreender a escrita infantil, assim como as de Vygotsky, Luria e Leontiev.
Abaixo se encontram algumas fotos que tirei durante a confecção do cartão.
Feliz Dia das Mães!






Obs.: Percebi um interesse demasiado de Julia pelo til (~) da palavra mamãe, penso que isso poderá atrapalhar sua escrita, já que toda vez que aparecia a vogal a durante o restante da escrita da frase, ela me perguntava se era para colocar, ou não, o “bigodinho” (~) em cima da letrinha a.

Julia Oliveira Araujo, 4 anos e 4 meses de idade.