domingo, 30 de junho de 2013

CRÍTICA AO ARTIGO "UMA VISÃO INTEGRADA"






Olá...
Meu nome é Edvaldo dos Reis, tenho 21 anos, moro na cidade de Guarulhos – SP, sou formado em Pedagogia e atualmente curso Ciências Sociais.
O motivo que me levou a escrever este e-mail encontra-se ligado diretamente a um artigo de sua autoria, intitulado “Uma visão integrada”, publicado no mês de junho na Folha Humanitária (junho 2013, ano III, nº 26).
Bem..., poderia discutir mais a respeito de todo o corpo do artigo, mas minha análise restringirá apenas à questão da educação, especificamente a questão do que na Pedagogia chamamos de “Os Quatro Pilares da Educação”.
Vou ser bem conciso: no artigo em pauta você afirma o seguinte:
“(...) É necessário formar indivíduos criativos, inovadores, polivalentes1, com capacidade de trabalhar em equipe, resolver problemas2, na qual se aprende a fazer3, aprende-se a ser4 e aprende-se a aprender5” (p. 10).
Polivalentes1: eu não sei se você sabe, penso que não, mas quando se fala em formar indivíduos polivalentes, no bojo deste discurso, aparentemente inovador e progressivista, encontra-se inserida a ideologia da classe dominante, neste caso, a burguesia, que deseja ver os filhos do proletariado (de)formados de modo que atenda às necessidades do mercado, isto é, invés de possuírem uma formação sólida e específica (ex. ser um médico, um advogado, um administrador, um cientista social, um filósofo, ou qualquer outra profissão/formação), essa ideologia pretende que a classe trabalhadora esteja “aberta a tudo”, ou seja, “domine tudo”, porque a “faxineira” pode fazer a função dela e a do pedreiro e quiçá também a da cozinheira. Espero que eu tenha sido claro: (de)formar indivíduos polivalentes é prepará-los para atender os ditames do mercado, e não para se apropriarem da riqueza acumulada historicamente, que é o conhecimento. Caso discorde, sugiro que seja você mesmo um polivalente, isto é, abandone o que sabe acerca das especificidades da Saúde Pública (já que você é um especialista nesta área) e desempenhe outras funções: limpe o piso do hospital, recepcione os enfermos e faça também curativos.
Resolver problemas2: no que diz respeito à habilidade dos indivíduos “resolverem problemas”, o seu texto não esclareceu quais possíveis problemas são estes, ou, dito de outra forma, pergunto: resolver os problemas de QUEM? Do dono da fábrica para quem eles provavelmente vão vender a sua força de trabalho? Resolver problemas sociais? Problemas de sua comunidade? Ora, a maneira como a questão foi colocada me parece que dispensa a função de outros profissionais, chegando inclusive ser dispensável o papel do Estado em resolver os problemas sociais, uma vez que está depositando no indivíduo a responsabilidade dele (e exclusivamente ele) “resolver problemas”.          
Aprende a fazer3, aprende-se a ser4 e aprende-se a aprender5: no que toca a esses três “pilares”, tenho duas posições: a primeira envolve o “aprender a fazer” e o “aprender a aprender”, pois, segundo Saviani (2003) o “aprender a fazer” encontra-se totalmente atrelado à educação tecnicista vinculada pela concepção escolanovista, a qual, como se sabe, foi um “desastre” na educação brasileira, cujo discurso, apesar de apresentar um ideal progressista, encontra-se pautado no intento de formar “apertadores de parafusos” (tecnicismo), desvinculando de sua formação a necessidade de disciplinas voltadas para a área de humanas (filosofia, sociologia, história); o “aprender a aprender”, por sua vez, segundo Arce (2001) e Duarte (2001), encontra-se respaldo no discurso pós-moderno e na proposta neoliberal, “matando” a função social do professor (que é o ensinar), apregoando o fim da transmissão do conhecimento e “McDonaldizando” a escola, tudo isso com o intento maior de transformar a educação em mercadoria (o que já é uma realidade); a minha segunda posição diz respeito ao “aprender a ser”, pois nunca me debrucei especificamente sobre este “pilar”, por não ter encontrado material que o analise de forma radical (no sentido marxista, isto é, indo na raiz do mesmo), no entanto, ouso perguntar: aprender a ser o quê? Aprender a ser quem? Com base em qual fundamentação teórica ou em qual “espelho”? Aprender a ser um pequeno burguês? Aprender a ser um proletário obediente e conformado em vender a sua força de trabalho? Aprender a ser um alienado que não tem consciência da riqueza que ele mesmo produz? Que aprender a ser é este? Bem..., como nunca me debrucei sobre essa questão antes, como disse anteriormente, deixo aqui essas questões para repensarmos este suposto “aprender a ser”.
Espero que não me interprete mal e que entenda as minhas análises; sim, é claro que a educação deve levar em consideração a “comunicação” e a “informação”, mas de modo algum deve pautar-se apenas e exclusivamente nisto.
Finalizo com uma citação de um dos maiores críticos do capitalismo: “Conclamar as pessoas a acabarem com as ilusões acerca de uma situação é conclamá-las a acabarem com uma situação que precisa de ilusões. A crítica não retira das cadeias as flores ilusórias para que o homem suporte as sombrias e nuas cadeias, mas sim para que se liberte delas e brotem flores vivas” (Karl Marx).
Atenciosamente, Edvaldo dos Reis.
Guarulhos – SP, 30 de junho de 2013.



REFERÊNCIAS:

ARCE, Alessandra. Compre o kit neoliberal para a Educação Infantil e ganhe grátis os dez passos para se tornar um professor reflexivo. Educ. Soc., Campinas, v. 22, n. 74, p. 251-283, abr. 2001.

DUARTE, Newton. Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana. 2 ed. Campinas: Autores Associados, 2001.

SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 36 ed. Campinas: Autores Associados, 2003.



sábado, 29 de junho de 2013

DEUS

Para uma vendedora de balas que encontrei certo dia no 712*.

Há pessoas que usam a palavra deus de modo ingênuo,
Algumas de maneira patológica
E outras de forma desesperada.
Dentre estas três distinções,
Certamente deve haver mais,
Apenas o desespero me agrada,
E é só neste que,
Apesar da minha descrença,
Eu consigo ver Deus.


*Ônibus.

MINHA MÁXIMA

Eu, por seu ateu, 
venho substituindo a máxima 
“a justiça de deus tarda, mas não falha”
por algo que considero mais simples e coerente: 
“a vida é uma boa roteirista”.

sábado, 15 de junho de 2013

17 DE JUNHO

É inegável que qualquer protesto ou manifestação se inicia com palavras, mas palavras, embora objetivas, são essencialmente abstratas, e só o concreto é capaz de desenvolver uma revolução.
Com palavras se conscientiza a massa e até mesmo a aliena, mas é por meio da ação que o povo conscientizado e unido ganha força, mesmo quando há repressão.
Se há repressão, por sua vez, é porque foi tocada, mesmo que de leve, a base que mantém a sociedade dividida em classes, e só a unidade classista é capaz de nos trazer a tão sonhada justiça.
Ser justo, por seu tempo, compreende não apenas o respeito com o chamado “patrimônio público”, mas, acima de tudo, jamais se calar diante da opressão.
Não se calar, por seu turno, não corresponde simplesmente ao ato de silenciar-se, mas, sobretudo, gritar por meio da ação.
Agir, por sua vez, não se restringe à ação de indignar-se em redes sociais, tampouco postar frases prontas de autores que a maior parte das vezes pouco se conhece. Na verdade, sou totalmente a favor dos que quebram o silêncio e denunciam as explorações do capital, mas, assim como sombras são sombras – como nos mostra Platão, em A República –, as palavras, por si mesmas, são também apenas palavras, embora possam desencadear ações.
Portanto, mais importante do que falar, citar, postar, compartilhar, curtir, divulgar, cantarolar..., é agir – e agir não de maneira passional e irracionalista, mas com responsabilidade e respeito aos interesses do povo, que está acima de objetivos partidários, faccionais e de grupos elitizados.
Como nos diz Brecht, os que lutam um dia são bons e os que lutam muitos anos são melhores ainda, porém os imprescindíveis são os que lutam por toda a vida.
Assim, convido a todos os que compartilham desta mesma ideia a irem segunda-feira, dia 17 de junho de 2013, à “Manifestação dos 20 centavos” (como assim prefiro chamar), porque ficar em casa assistindo Malhação é um sinal patológico de acomodação.
Como nos diz João do Rio, “a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma!”, assim, chamo a todos para irem às ruas, porque nelas podemos mostrar, de fato, quantos somos. Saiamos da caverna, meu povo, deixem de lado a Seleção, o Amistoso, o Facebook e a televisão.