quinta-feira, 1 de setembro de 2016

NADA A TEMER


Meu coração é um coquetel molotov:
Ao menor contato com fogo
Incendeia-se e se explode.
Ao chão, fragmenta-se em estilhaços
Que ferem os que ousam tocá-los.
Meu coração está aos cacos!

Minha alma é movida a libido e a álcool:
Ela própria é quente e volátil.
Dentro de si há um bar impróprio:
Eros embebeda-se de amor e vomita ópio;
Thanatos embriaga-se de dor e destila ódio.

Minha psique é um signo linguístico
Cujo significante reduz-se a gemidos edipianos.
Seu significado, porém, não está escrito
No pensamento freudiano.

Meu espírito vive em estado de sítio,
Todo ele é confusão e grito.
Com meu povo, com minha gangue
Vou pras ruas com minhas bandeiras:
Uma é colorida, tão bonita!
A outra é vermelha, feito sangue.

Tenho Sol e Lua em Capricórnio,
Mercúrio e Vênus em Sagitário:
Minha rebeldia se ascende em Aquário.

Por isso nado.
Mesmo faltando fôlego,
Mesmo estando fraco,
Ainda que sozinho, eu nado.
Sem a companhia de Deus ou de Iansã.
Mas como escapar deste pântano gelado
Se o monstro das águas, o Leviatã,
Ergue-se de dentro do lago?

Minha voz fina grita.
Indignada, nada tem a temer.
E por que temeria?
Quando estou prestes a morrer,
Faço nascer uma poesia.