domingo, 26 de agosto de 2012

CORROMPENDO-ME


A hipocrisia construtivista pode até corromper a minha escrita, mas jamais as minhas ideias e a minha práxis.
Escrevo, numa boa, o que os letrados da Magda querem ler, e minha escrita fica tão hipócrita que eles acabam acreditando. Por que será, hein?
Minhas palavras ferradas de fúria, por não ter recebido educação pública de qualidade, jamais serão moldados por Ferreiro.
Psicogênese da Língua Escrita, Alfabetização e Letramento, Reflexões Sobre a Alfabetização, Alfabetizando Sem o bá-bé-bi-bó-bu: literaturas shakespearianas?  PREFIRO SARAMAGO!
Meu léxico pedagógico está sujeito a mutações, mas sempre haverá uma frase de Jorge Amado pronta para escorregar da minha língua e ir em direção aos ouvidos dos piagetianos.
Por hora me calo, mas dentro de mim há quatro palavras, as quais já foram popularizadas pelo povo brasileiro, e se um dia eu regressar à fase anal, mesmo que Freud não explique, eu falo. Ah se falo...!

A ESCOLA DOS MEUS SONHOS

Eu sonho com uma escola real, sem fantasias, slogans e hipocrisia, na qual não se negligencie o conhecimento, e a informação, como em uma espécie de recheio para bolo, seja apenas o complemento.
Eu sonho com uma escola que leve a sério a alfabetização, que seja organizada e sistemática, e que cada indivíduo, que a compõe, desempenhe sua verdadeira função.
Eu procuro uma escola na qual ensinar e transmitir não seja sinônimo de ditadura, e os processos de codificação e decodificação sejam entendidos como necessários a uma eficiente formação.
Eu sonho com uma escola na qual o boi possa naturalmente babar – e não ser condicionado a cuspir. Um lugar onde Eva e Ivo possam finalmente verem as benditas uvas – e não, apenas, “construírem conhecimento” a partir da realidade cultural e socioeconômica local.
Eu sonho com uma escola que adote métodos cientificamente comprovados como indispensáveis durante a escolarização, e que o senso comum não assassine a didática nem a gramática, um lugar onde dois mais dois será sempre quatro, na matemática.
Eu procuro uma escola que respeite as diferenças sem as igualar, porque, a meu ver, isso não é inclusão.
Eu quero trabalhar em uma escola que seja verdadeiramente uma escola, e não uma legolândia* de eternas cirandas.
Eu sonho com o dia em que meus pés cruzarão os portões desta escola, e aí, sim, terei orgulho de minha profissão, porque finalmente os projetos hão de sair dos papéis – eternos cordéis.
Tentarei, até o fim da minha vida, levar essa escola ao acesso de todos; tirá-la, à força, das instâncias dos meus sonhos e trazê-la à realidade, verdade! E se essa escola, da qual lhe falo agora, vier a ser rotulada de mecanicista ou tradicional, eu não me importarei, porque mais mecânico é o discurso tradicional de rotulação.
Construirei, do modo como sei, a escola dos meus sonhos.


* Termo criado por minha amiga, Lisa Nobre Ledo, também estudante de pedagogia e defensora do método fônico de alfabetização.

VALSA


Gosto de olhar dentro dos olhos dos homens,
Bem lá dentro,
Bem no fundo,
Em uma região que,
De tão escura,
Chego a chamar pela minha a mãe.
Mas é lá,
É lá que estão
O bem e o mal dançando valsa,
Juntos.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

PROVOC AÇÕES


O lema da pedagogia contemporânea do Brasil é, inquestionavelmente, “fazer a diferença”, e o seu grito de guerra, tão cômico quanto os filmes de Charles Chaplin, é o tão famoso “educar para a vida”. O que mais se escuta, dentro de uma sala de aula do curso em questão, são pessoas repetindo, de forma eloquente, tais frases, levando-me a crer que são bandos de papagaios “acorujados”, condicionados por um método pavloviano, que vivem a chalrear chorumelas. Agora eu pergunto: o que significa fazer a diferença? Fazer o que todo mundo faz? Repetir, de modo irracional, a irracionalidade construtivista? Imitar, o mais original possível, Ferreiro e Teberosky? E educar para a vida? Qual o significado real de tal enigma?
Ora, batizaram-me, carinhosamente, de crítico e prepotente, mas há maior prepotência do que “educar para a vida”? É claro que é a vida quem nos educa, e não o contrário, de acordo com as exigências do meio social no qual estamos inseridos.
Portanto, cuidado com os chavões pedagógicos que tanto têm nos enganado: eles não vão nos levar a lugar algum, a não ser, é óbvio, à mediocridade de um ensino cada vez mais fragmentado e desarticulado, mediocridade esta que vem sendo refletida nas avaliações educacionais, tanto em nível nacional quanto internacional, das quais a educação pública brasileira tem participado.
Para fechar com chave de ouro só falta os construtivistas dizerem que têm diploma da vida.

DENÚNCIA

Se a educação brasileira se encontra inserida nesta precariedade didático-metodológica em que estamos vivenciando, é porque tal precariedade, por mais absurdo que pareça, está sendo conveniente e lucrativa para alguém, e este alguém, acredite, tem muitos nomes.

EXTREMAMENTE FÁCIL


Chega de demasiadas dificuldades:
Meu lema agora é ganhou, leva.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

domingo, 5 de agosto de 2012

VÁRZEA DO POÇO


Fuga: esta foi a primeira palavra que aprendi depois que ele fugiu.
Fugi também. De mim. Dele. De tudo que me lembrava ele.
Fugi tanto que cheguei a desaparecer de todo canto do mundo
Sem necessariamente estar enterrado.
Fugi da morte. Venho fugindo da vida. E ela também foge de mim.
Temos medo um do outro:
A vida teme que eu fale tudo o que sei,
Eu temo que ela cale tudo o que sabe.
Fugi. Por céu, terra e mar.
Voei alto. Bem alto. Muito, muito alto.
Bem mais alto do que a minha imaginação consegue narrar.
Caí. Lá embaixo. No fundo do poço. O poço não tinha fundo.
Afoguei-me. Não havia salva-vidas. Não há salva-vidas no fundo do poço!
Com muito pelejar, dei algumas braçadas.
Não é que aprendi a nadar!
Nadei. A água estava gelada. Minhas lágrimas são geladas!
Não havia sol. Não havia lua. Não havia crepúsculo.
Não havia nada além da água fria do fundo do poço
Que por ironia não tinha fundo.
Com o tempo, transmutei-me em peixe.
Ganhei nadadeiras. Ganhei agilidade.
Era o que eu mais precisava para fugir.
Fugi do fundo do poço em que caí.
Afoguei-me fora dele: tinha virado um peixe e nem mais me lembrava.
Achei outro. Outro poço. Este também não tinha fundo.
Mas não era gélido, embora também não tivesse sol.
O segundo poço era mais escuro que o primeiro,
Por isso assustei-me de início.
Depois de alguns tempos, desenvolvi um certo tipo de visão noturna.
Não é que finalmente me enxerguei!
Detalhe: não há dias dentro de um poço:
Tudo é escuridão e noite.
Sinto saudade da luz.
Sinto saudade do sol.
Sinto falta dele.
Mas eu virei peixe, e peixes vivem dentro de aquários, rios e mares.
Mas prefiro algo mais fundo,
Por isso mesmo sinto uma saudade incomensurável de mim mesmo.
Sinto falta do meu verdadeiro eu que abandonei no fundo de um poço.
Um poço que, diferente dos outros, tinha fundo.
E lá está a minha melhor parte,
Submergido nas águas mais frias no fundo do poço.
E no fundo do poço também está ele.
Ele. Ele! Ele? Sim, ele: o moço de quem vivo a fugir.

OH DELICIOSO VOOU!

Tudo na vida tem o seu preço, e apesar do lucro aparentemente inerente àqueles que levam uma vida regrada e compassada nos moldes da mórbida moralidade social, é muito alto o preço de ser o cidadão certinho, o filho perfeito, o neto brilhante, o aluno de ouro, o professor Einstein. Pergunto-me se vale a pena pagar este preço tão alto em troca de uma simples satisfação e aceitação social ou pelo mero regozijo do ego, e chego à conclusão de que se atirar no precipício do inesperado realmente não tem preço. Vai, pula! PULA AGORA, VAI!




E

u
     


 j

á  


                                             
p

u

 l

e

i
...

SEDE


Quando estiveres com sede de amar,
Beba os meus versos,
Mesmo que não pareça,
Depositei neles o que há de mais doce em mim.
Se a sede persistir,
Embriaga-te de si mesmo:
O amor está aí,
Bem aí, consegues sentir?
Ele está aí,
Sim, aí:
Em algum lugar dentro de você.

RESPONDE!


A luz e o último suspiro que brotaram da cruz
Fez valer todas as chibatadas.
Quantas chibatadas nós valemos?
Qual o peso de cada uma dela?
Vai, responde.
RESPONDE!
Eu não ouso responder...

EX-CITADO

Tenho quase certeza de que hoje eu escutei o teu desejo apressado me chamando com inútil pressa. Mas, de verdade, era o teu ou o meu desejo quem me fizera recordar o passado e me deixara com taquicardia?

GENTILI


Agora é tarde para chorar pelo leite ejaculado.
Bebemos juntos o leite derramado.
Nós próprios derramamos o leite condenado.
Condensamos o leite um do outro e,
Por fim, o produto final:
A matéria-prima de nós mesmos.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O TRIPÉ QUE SUSTENTA O DISCURSO CONSTRUTIVISTA BRASILEIRO


Muito se tem falado em construtivismo e pouco se tem discutido. Há, dentro do campo educacional, principalmente nos cursos de pedagogia, uma aceitação generalizada e uma espécie de convertimento à “doutrina” pedagógica em questão, a qual, dentro desses mesmos cursos, é sustentada por três teóricos distintos (ou seriam semideuses?), são eles: Jean Piaget, Lev Semenovich Vygotsky e Henri Wallon.
Em síntese, pode-se afirmar que a ênfase de Piaget está voltada mais para a parte biológica do sujeito e, consequentemente, a maturação cognitiva de que ele tanto falava, sem deixar de lado, entretanto, aspectos ligados à psique humana e a socialização; Vygotsky, como contrapartida, enfatizava a interação social e a cultura produzida pela humanidade; e, por fim, Wallon, o qual dava grande ênfase à afetividade.
É válido ressaltar que o construtivismo foi formulado por Jean Piaget, o qual, tendo a biologia e a psicologia como formações acadêmicas, focou-se nessas duas áreas do conhecimento para elaborar sua tese, porém favorecendo e enfatizando os aspectos biológicos do sujeito, cabendo frisar ainda que em momento algum a teoria construtivista fora pensada sob a óptica da pedagogia, o que, por sua vez, já é um tanto contraditório que tal abordagem teórica tenha se difundido, do modo como se deu, no cerne da pedagogia e, portanto, na educação.
Paradoxalmente o mesmo autor que incluíram como adepto a esta corrente teórica, critica, em diversos estudos publicados, a tese pertencente ao pai do construtivismo, ficando um pouco confuso de se entender o porquê de Vygotsky estar associado a essa dada teoria piagetiana. Mas como na educação os paradoxos também andam de mãos dadas com as contradições, desde que os interesses em jogo se reforcem e se complementem, sigamos um pouco mais adiante com a reflexão acerca do tripé que sustenta o discurso construtivista brasileiro – digo brasileiro por não saber se em outros países tal disparidade pedagógica acontece destarte.
A partir das ideias anteriormente apresentadas, considero extremamente necessário fazer três afirmações, as quais, para alguns construtivistas de plantão, poderão soar como heresias aos seus “dogmas”:
1ª – É claro que a teoria piagetiana é importante na compreensão do sujeito quanto um ser bio-psico-social, mas a escola, como um ambiente democrático e redutor de injustiças, não pode negligenciar, aos seus alunos, os conteúdos acumulados histórico e culturalmente ao longo dos anos, muito menos transformar o professor em um mero mediador do processo educacional – se reduzi-lo a esta mera prática (docente?), reduzir-se-á, por conseguinte, toda a sua formação acadêmica bem como a sua profissão;
2ª – É evidente que a ênfase Walloniana é imprescindível na educação e na práxis docente, porém a escola, como ambiente educacional e não assistencialista, não pode ser reduzida ao afeto – não que este não seja importante, mas é que além do afeto em si, há, teoricamente, um currículo pedagógico a ser cumprido, o qual não permite demasiado sentimentalismo;
3ª – É óbvio que algumas propostas da abordagem sócio-interacionista vygotskyana são importantes durante o processo de aprendizagem, entretanto a escola não pode ser restringida apenas a um espaço promovedor de interação social, tendo em vista que há disciplinas a serem lecionadas, e, dentro delas, conteúdos a serem ensinados, e não simplesmente “construídos”, como pregam os construtivistas. Caso o papel dos alunos limitasse à socialização, a existência da escola, como espaço físico, não seria necessária, já que é de conhecimento geral que um simples computador ou até mesmo um celular, conectado à Internet, ocupa tal tarefa de modo esplêndido – bem melhor que a própria escola, por sinal.
Ainda complementando o que diz respeito à função do professor na vertente construtivista, faz-se necessário apresentar, aqui, os seguintes questionamentos: ao tornar-se um mediador do processo educacional, tal profissão não seria descaracterizada? E essa suposta mediação restringe-se apenas às modalidades de Educação Infantil e Fundamental? Já que, segundo a concepção construtivista, se pode mediar o processo de “ensino-aprendizagem” nos níveis de ensino mencionados anteriormente, poder-se-ia mediar, do mesmo modo, as aulas aplicadas nos Ensino Médio e no Ensino Superior? Como é que se media uma aula de física quântica? E de anatomia? E uma aula de cirurgia cardiovascular? E já que, de acordo com a visão de Piaget, o sujeito aprende por meio da experiência, como um estudante de astronáutica construiria o seu conhecimento de bioastronomia? Indo a outros sistemas planetários? Visitando outras galáxias? Trocando emails com extraterrestres? Como calcular, por exemplo, as diferentes razões de seno, cosseno e tangente dentro da proposta construtivista? E no que concerne a valorização profissional do mediador, os governos, ao se darem conta dessa transformação, não o remuneraria com uma quantidade inferior em relação àquela que é paga, atualmente, a um professor? Ao se metamorfosear em um mediador, o mesmo não seria reconhecido, capitalisticamente falando, por um salário condizente como tal? Quanto às faculdades e universidades que oferecem cursos de pedagogia, não seria necessário formar seus mestres e doutores, em um curso construtivista, para se transformarem em mediadores? Para formar mediadores não serão necessários outros mediadores? Professor forma mediador? Quem formaria, na íntegra, um mediador? Piaget? O pai do construtivismo foi, de fato, um mediador? Quem o formou? Professores ou mediadores? Estas e outras perguntas são questões intrínsecas aos dogmas construtivistas, dogmas estes que, quando questionados, levantam discussões enriquecedoras, porém nem sempre producentes, já que esta alienação pedagógica é favorável àqueles que controlam as classes sociais inferiores, e, portanto, à hierarquização; dogmas esses que, se aceitados, por todos, desqualificarão ainda mais a educação de modo geral, tendo em vista que os níveis de ensino são subsequentes.
Outro grande problema do discurso construtivista está também ligado aos cursos de formação de professores, muitos dos quais, não satisfeitos com apenas a disciplina de didática a ensinar a técnica de ensinar, voltam suas diferentes metodologias para o mesmo princípio da disciplina mencionada agora pouco, ficando esses futuros profissionais sem saber direito o que ensinar, e, por ausência de métodos nas disciplinas de metodologias, também não aprendem como ensinar.
Outro ponto que merece reflexão diz respeito ao aprendizado do professor com o aluno, ou seja, há, dentro dessa mesma corrente, uma suposta inversão de papéis, cujo aluno passa a ensinar ao professor, já que o processo de aprendizagem discente é rebatizado de ensino-aprendizagem. Não restam dúvidas quanto ao fato de o professor aprender com seus alunos, principalmente com a subjetividade das experiências pessoas de cada um – sendo esta subjetividade, portanto, fruto do senso comum –, mas tomemos cuidado para não sermos hipócritas e simplórios ao afirmar que tais contribuições, feitas pelos alunos, se encontram arraigadas em bases sólidas e científicas, em exceção, talvez, às dos alunos do Ensino Médio e do Ensino Superior, o que, hipoteticamente, poderá acontecer. 
Diante de tudo o que foi explanado, conclui-se que o construtivismo brasileiro é uma espécie de corrente pedagógica híbrida, composta e sustentada por diferentes concepções teóricas, as quais, em parte, se contrapõe – como é o caso da discrepância observada entre Piaget e Vygotsky –, todavia vale ainda dizer que o mesmo é incongruente para com uma educação metódica, democrática e organizada, portanto, assim como o Parâmetro Curricular Nacional de Língua Portuguesa voltado ao ensino de 1ª e 4ª séries, o construtivismo, da forma como se apresenta, não passa de confusão didático-metodológica que proporciona o esvaziamento das aulas.

Obs.: Baixe aqui o artigo acima (p. 12).