domingo, 8 de dezembro de 2013

CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS ACERCA DO CONCURSO PÚBLICO Nº 08/2013-SAM 01


Ponho-me agora na tarefa de analisar, superficialmente, o concurso público (nº 08/2013-SAM 01) para professores de Educação Básica da Prefeitura de Guarulhos-SP. Antes de tudo, reitero o que disse acima, isto é, não farei uma análise esmiuçada das questões apresentadas nas duas provas; apenas discorrerei brevemente acerca da primeira prova, mas precisamente acerca do texto que embasou as questões 17, 18, 19 e 20, e destacarei alguns pontos que considero relevantes que apareceram na segunda prova, ou seja, que dizem respeito à discussão teórico-política.

No que diz respeito à prova de Língua Portuguesa e Raciocínio Lógico (Parte I), não tenho muito a dizer além da surpresa ao deparar-me com um artigo intitulado “Uma revolução no ensino. Outra?”, do economista tirado a pedagogo e articulista da Revista Veja Claudio Moura Castro. Um momento. É preciso que eu problematize melhor essa questão para que não me interpretem mal. Ressalto, antes de tudo, que não sou a favor da censura de textos da “direita”, de cunho liberal; não, não é isso. Porém, a piada é outra: lembram-se da polêmica acerca de uma simples questão do ENEM 2013 e que repercutiu em algumas mídias? Sim, estou falando da questão que trazia à tona um excerto do prefácio do livro “Para uma crítica da Economia Política”, de Karl Marx. Ora, a Revista Veja, na sua célebre simpatia pelo barbudinho comunista, publicou um pequeno texto[1], de autoria do também economista Rodrigo Constantino, no qual dizia que o ENEM – que, diga-se de passagem, é um exame altamente excludente para com os jovens da classe trabalhadora – estava fazendo proselitismo político pró-marxismo. Portanto, sobre este aspecto, digo o mesmo do concurso realizado pelo IBAM (Instituto Brasileiro de Administração Municipal), porém inversamente: o texto do Dr. Claudio Moura Castro não está isento de ideologias da classe burguesa, capitalista, dominante ou opressora, como queiram chamá-la. Assim, encerro, aqui, meu comentário acerca da primeira parte do concurso. Poderia, claro, ressaltar as dificuldades dos problemas matemáticos, mas já era de se esperar conteúdos de caráter seletivos: afinal, as universidades privadas estão fabricando pedagogos quase que na mesma proporção que investem seus lucros na Bolsa de Valores.

A segunda parte, mais voltada para os conhecimentos específicos e legislativos, merece um tanto mais de atenção, pois, grande parte da mesma encontra-se permeada de ideais liberais – prova disso é a primeira questão, mais uma vez publicada pelo Pezinho de Feijão, isto é, a opulenta revista de ficção científica brasileira: é..., a Veja. Como eu estava dizendo, a primeira questão fazia proselitismo (como diria o Ricardinho Constantino) à privatização do pré-sal do campo de Libra.

Não contente com a mensagem da primeira questão, o IBAM fez uma segunda questão ainda mais abertamente liberal, a ponto de mencionar o liberalismo; a mesma dizia respeito ao novo partido político representado por empresários e executivos, a saber, o Novo – o nome do partido é Novo (que original!).

Não tenho muito a dizer das questões referentes à Legislação Educacional, apenas que uma parte delas estava pessimamente formulada, a ponto de quase não se compreender o cerne da pergunta (se é que se perguntava algo ali). Uma delas, a questão de número 8, dizia apenas: assinale a alternativa correta. Como assim? Não se perguntou nada antes disso, sabia-se, apenas, que dizia respeito ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), nada mais. Mas, enfim, quem se graduou no Circo Laranja (Anhanguera Educacional), não tem muito do que reclamar, haja vista que as provas de muitos professores de lá são verdadeiras esfinges enigmáticas.

Outro ponto que quero salientar é o que tange às teorias de Wallon, Piaget e Vygotsky, a saber que a questão de número 20 as reduziram, sequencialmente, aos fatores emocionais, biológicos e sociais, como se as ideias desses três pensadores se resumissem a isso, apenas isso. Com relação a Vygotsky, o qual tenho grande simpatia, a questão de número 27 me deixou um tanto confuso: de qual Vygotsky o IBAM estava a tratar? O marxista ou o neopiagetiano? O socialista ou o socialdemocrata?

Segundo a professora Zoia Prestes, em seu livro “Quando não é quase a mesma coisa: traduções de Lev Vigotski no Brasil”, para Vygotsky não é a aprendizagem em si que leva a criança a se desenvolver, e sim a relação entre instrução (isto é, ENSINO, também conhecido como TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTO) e desenvolvimento, fazendo entrar em choque, assim, o ideal construtivista que associa tal autor a Piaget. Devo mencionar, só para fins de curiosidade, que Zoia domina a língua russa, e se dedica, academicamente, também à tradução das obras de Vygotsky.

Destaco, também, duas questões (45 e 46) sobre o pensamento de Emilia Ferreiro, a qual, como muitos sabem, eu discordo radicalmente. Minha crítica ao IBAM não se entrelaça, entretanto, com minhas divergências didático-metodológicas que tenho para com o construtivismo ferreiriano, e sim, apenas, com a ausência do nome da obra na formulação dessas questões. Só agora sei que foi retirada do livro “Com todas as letras”, se soubesse antes, por incrível que pareça, teria respondido bem mais rápido. No entanto, o que vale é ter acertado, as duas. Acertar uma questão de concurso é muito bom! Não errar a questão sobre Ferreiro é melhor ainda!

Por fim, pondero tudo o que venho dizendo até agora e faço, nesse momento, uma crítica construtiva: foram boas as provas, com erros que considero crassos mas, enfim, no geral, as provas foram boas.

Só para finalizar, pontuo, rapidamente, dois tópicos que não devo deixar de mencioná-los:

1 – Quem estuda o sistema educacional e conhece, de certo modo, a política neoliberal, fez, com certeza, uma prova razoável. Deixo aqui a dica: seja liberal e mande bem em concursos.

2 – Um pedido: alguém, por gentileza, pode dizer ao Edgar Morin que não se transforma o mundo com poemas e tulipas?





[1]Disponível em: < http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/cultura/marx-abre-o-enem/ >. Acesso em: 08 de dezembro de 2013.

sábado, 7 de dezembro de 2013

UM LEMBRETE


Se sua mãe trabalhasse em uma cantina,
Limpasse a fábrica das bailarinas
E ainda fizesse faxina,
Talvez você compreenderia minha sina,
Ao perceber que o buraco é mais em cima,
E jamais chamaria o Marx de facínora.