quinta-feira, 14 de junho de 2012

SE EU FOSSE A IGREJA CATÓLICA


 Se eu fosse a Igreja Católica eu canonizava os santos de verdade, sabe?, não os genéricos..., a começar por Renato Russo e Cazuza, os santos dos rebeldes; também tornaria oficialmente santos Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector, sem esquecer, todavia, de Paulo Coelho e J. K. Rowling – os santos dos bruxos e simpatizantes do misticismo. Minha bênção também se estenderia radicalmente um pouco mais adiante, consagrando Saramago, Sartre, Nietzsche, Freud e Marx como os representantes santificados dos ateus; quem sabe, ainda, Raquel Pacheco, a Virgem das Surfistinhas – esta seria deveras venerada. Não poderia também esquecer-me da Madre Coralina, a humildade e a doçura dos seus versos me remete à Irmã Dulce e à Teresa de Calcutá. Roberto Freire ficaria incumbido de proteger os coiotes; Paulo Freire e Cristo, por sua vez, guardariam os oprimidos; Quintana, Drummond, Camões, Baudelaire, Pessoa e Vinícius de Moraes amparariam os poetas.
Um dia pretendo criar a minha própria Igreja Católica, mas não terá bispos nem papas, talvez, na mais remota das possibilidades, padres, e canonizarei todos os que milagraram lágrimas e risos, e dores e amores...
Santos, a meu ver, são todos aqueles que conseguem operar milagres com as palavras.

ASSIM É A VIDA


A vida nada mais é do que variadas posições eróticas do cotidiano sexual: hoje por cima, amanhã por baixo, às vezes até de quatro por quem não merece. Mas assim é vida: hoje por baixo, amanhã por cima...

domingo, 10 de junho de 2012

CARO-CÉU

 Acontece que pode ser perigoso atravessar a fronteira que separa o Eterno do efêmero, o Divino do humano, a Luz das trevas.
Acontece que pode ser perigoso não atravessar a fronteira que divide as trevas da Luz, o humano do Divino, o efêmero do Eterno.
Acontece que o perigo se encontra de ambos os lados dessa fronteira invisível, e decidi, portanto, que quero atravessá-la.
Acontece que eu não sei o que acontece quando se decide fazer tal travessia, muito menos sei ainda o que se passa e o que se encontra do outro lado – fato que Deuteronômio 29:29 não explica, e como explicaria?
Acontece que eu sou uma pergunta mal-elaborada em busca da Reposta mais que perfeita, e tal Resposta eu não a encontrei pelos caminhos que outrora eu percorri. Já que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, eu não hesitarei. Por favor, não me impeça, julgo escutar uma voz que me diz “vê, vem!”, e eu estou indo... Estou indo... Indo... Rindo... 

INOMINÁVEL

Não se nomeia o inominável. Na verdade, nomear é sempre limitado. E não se limita o infinito.
Para que que eu haveria de pôr nome naquilo que sem nome eu me pus a sentir por você? Ora, chamá-lo do quê? Amor? Paixão? Amizade? Não, não, não!
O que eu sinto por você não carece nomenclatura nem batismo, mas é grande e doce e colorido e visceral e leve. Só isso. Apenas isso. Isso e mais nada.
Nomeá-lo? Nomeie você, que talvez também possa senti-lo, já que o lê.

sábado, 2 de junho de 2012

A PEDAGOGIA DO PARADOXO

Letramento – palavra bonita, não? Ultimamente é moda utilizá-la em propostas, discursos e conferências educacionais, e quem ainda não a adicionou em seu léxico pedagógico, é visto com maus olhos. Sua pronuncia soa como a solução de todos os problemas ligados à aquisição da leitura e da escrita, talvez até cure os mais variados tipos de dislexia dos educandos brasileiros, inclusive os de origem patológica. Como? Letrando-os de acordo com a visão dos Parâmetros Curriculares Nacionais, principalmente o de Língua Portuguesa destinado ao ensino de 1ª a 4ª séries.
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) – em tese é o que há de mais moderno no campo educacional brasileiro, na prática não passa de confusão metodológica. Para os mais esperançosos, talvez seja esse, o PCN de Língua Portuguesa, o “Redentor” que salvará a educação brasileira do analfabetismo. De que modo? Mergulhando os alunos nos mais diversificados gêneros textuais – eu rogo para que não os afogue nesse tsunami intelectual, já que a maioria nem domina as correspondências entre grafemas e fonemas que, segundo pesquisas científicas internacionais e nacionais (como é o caso de estudos desenvolvidos pelo laboratório de neuropsicolinguística cognitiva da USP), deveriam ser ensinadas durante a alfabetização.
Alfabetização – vocábulo que não se encontra mais em voga em tempos construtivistas, ou, dentro de uma visão mais otimista, palavra que sofrera certo tipo de mutação didático-pedagógica: a qual alterou seus cromossomos ABC para o método global. Sua definição, segundo os PCNs, está totalmente em discórdia com as visões de um simples dicionário ou das mais criteriosas pesquisas internacionais, e no que diz respeito à sua aplicação dentro da sala de aula, foge totalmente à metodologia adotada por países desenvolvidos: o método fônico.
Método Fônico – no Brasil, tais palavras são palavrões; em países como Finlândia, França, Dinamarca, Inglaterra, Estados Unidos e Austrália, nada mais é do que o que há de mais eficaz no processo de alfabetização, visto que sua ênfase está voltada ao ensino explícito das correspondências entre os grafemas e os fonemas e para o desenvolvimento da consciência fonêmica e fonológica.
Como já foi dito anteriormente, no Brasil virou tendência falar-se em letramento e todos os seus mais variados conceitos que o engloba, porém, particularmente, oponho-me a tal ideia, a partir, entretanto, do momento em que o termo em questão transforma-se em esquiva construtivista que visa à negação de uma alfabetização organizada, sistemática e, por tanto, metodizada.
É comum, nos cursos de pedagogia, nos depararmos com uma formação docente voltada para ensinar nossos futuros alunos a brincarem e dançarem enquanto estiverem em âmbito escolar. Porém, futuramente, quando o Ministério da Educação (MEC) aplicar suas provas de CONTEÚDOS TRADICIONAIS, será que os alunos poderão responder “nesse momento estávamos brincando de roda”? Ou, em outras palavras: faço-os dançarem e, na hora da prova, eles...
A – (  ) respondem corretamente a questão.
B – (  ) comemoram por saber a resposta certa.
C – (x) dançam...
Condena-se, alegando ensino mecanicista e tradicional, a aplicação, a transmissão de conteúdos e a memorização dos mesmos e até do abecedário, porém, paradoxalmente, treinam os alfabetizandos, a partir de uma abordagem ideovisual (método global), a memorizarem visualmente as palavras e, o que é pior, aplica-se exames empiristas. Ora, se é proibido codificar e decodificar palavras, como é que os construtivistas leem a Psicogênese da Língua Escrita? E se não se pode ensinar os educandos as habilidades necessárias para a codificação e decodificação, como eles aprenderão a ler e a escrever?
Diante de tudo isso, não é difícil perceber a estratagema política arraigada nos documentos oficiais brasileiros que, por caráter natural de sua própria nomenclatura, deveriam orientar a educação nacional, e não ao contrário. Ficando, em suas entrelinhas, uma pergunta que só os ousados podem se dar ao luxo de questionar e responder: a quem tal disparidade pedagógica beneficia? Eu já questionei, agora passo a você, portanto, a tarefa de responder o enigma do MEC.

Obs.: Baixe o artigo acima aqui (p.7).

BACHEM

O tempo passou...
Já não somos os mesmos,
Nem temos mais catorze anos,
Nem estamos mais na oitava série.
Como um vento que leva tudo o que é leve,
O tempo levou nossos brinquedos,
Teus beijos, teu toque, teu calor, tu.
Havia mesmo a necessidade de ele levar-te?
(pergunta insolúvel!)
A gente brincava com o tempo,
Com o cronômetro e com os relógios,
Hoje eles brincam conosco
– Desculpe-me, quis dizer comigo.
Não existe mais nós,
Nem o sonho adolescente de montar o nosso próprio condomínio,
Também não existe a possibilidade de conversarmos sobre isso.
A sensação que tenho é a de que te troquei por Piaget,
Ou quem sabe Capovilla.
Hoje eu tenho a promessa de um salário razoável,
A possibilidade futura de inserir, antes do início do meu nome,
Duas letras, Ms. ou Dr., o que não mudará nada em mim,
Ou ainda, se eu tiver muita sorte e muita determinação,
Inserir, ao final do meu nome, três letras: ph.D. – meu objetivo, é claro!
E tu, o que tens além de possibilidades?
Que tolo, eu: o passado, em si, não responde!
Hoje eu daria tudo, tudo,
Só para te teres aqui ao meu lado.
Renunciaria tudo, tudo,
Se ao menos possuísse a mísera sensação de possuir-te.
Estou com tanta saudade, mais com tanta saudade,
Que eu abandonaria tudo, tudo,
Se tu me ligasses e dissesses “vem!”.
Eu iria, não pensaria nem uma nem duas vezes,
Deixaria tudo para trás:
TCC, método fônico, graduação, lato sensu, stricto sensu, ph.D
– em exceção, apenas, a afetividade defendida por Wallon.
E eu sei que eu me arrependeria,
Mas se tu me chamasses, hoje eu iria
– como nos tempos do Fundamental.
Ainda recordo – e como esquecer? –,
As nossas taquicardias, os nossos passos, o caminho da minha casa à sua.
Tu ias sempre à frente, com a chave na mão,
E a euforia era tanta que ficavas, compulsivamente, a balançar aquela chave,
Como um hiperativo – comparação, por sinal, perfeita!
Eu ia atrás, como um cachorrinho, porém arquitetando tudo,
Bolando posições e roteiros corporais,
Como um bom criativo que sempre fui.
Tu abrias o portão e eu o trancava:
Pronto, o mundo dos prazeres estava aberto.
Será que ainda poderemos, Peter, encontrar o nosso Mundo Perdido?
Nuestro amor es la isla¹ – será?
Siempre todo as escondidas, siempre mirando atrás.
O tempo passou...
O passado às vezes se faz presente...
O futuro é incerto demais.
O tempo passou...
Já não somos mais os mesmos...
Orgasmos por orgasmos talvez já não valham mais a pena,
Embora fossem a moeda mais justa que tínhamos.
Estou com tanta saudade, mais com tanta saudade,
Que não sei como explicar.
Por favor, não me ligue:
Pela beleza do nosso passado,
Seria capaz de abdicar a (in)certa estabilidade de meu futuro.

¹Obk, Falsa Moral.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

PEDRAGOGIA


Depois de tanto tempo parado, volto a escrever. E assim executando este meu hábito diário, percebo que as minhas palavras estão mais pesadas do que nunca.
Não vos deixeis, entretanto, levar-se pelos meus pensamentos pedregosos – eles são assim: duros feito pedra.
Não vos aceiteis, em hipótese alguma, que a dureza do meu coração impeça-lhes de enxergar o que há de bom nele: as pedras.
Não vos entristeça, mesmo se isso ocorrer no mais triste de todos os dias tristes, se os meus poemas resolverem petrificar o vosso coração: eles nasceram das pedras.
Não estranheis se, por acaso, as minhas críticas lhes parecerem demasiada duras a ponto de te machucar: elas foram fecundadas no útero de pedra dos meus poemas.
         Não espantei-vos quando lhes digo que faço PEDRAGOGIA: é que o trocadilho condiz tão bem com o meu curso, que eu resolvi rebatizá-lo assim.
         E assim sempre foi a minha vida: pedras para lá, pedras para cá; escalando montanhas de pedras, deixando que as pedras me escalassem; conversando com algumas aqui, escutando outras acolá. E no silêncio das pedras, aprendi a escutar as suas vozes que insistem em me dizer:
         – Seja duro, forte e firme.
         Entretanto, elas nem sempre são sinônimos de fortaleza: até mesmo as pedras choram no silêncio da noite.