terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

EU ERA UM ANJO

Vim à Terra como um anjo. Minha mãe, temendo que eu voasse, cortou minhas asas. Minha irmã, que sempre gostara do brilho das coisas, furtou minha auréola. Por fim foi a vez de Deus, que após se dar conta de que me fora tirado os apetrechos de arcanjo, decidiu presentear-me com um coração. E foi desse modo que eu me tornei um menino de verdade: por meio das perdas, transmutei-me em humano. Mas de uma coisa eu estou seguro: a essência angelical da minha poesia ninguém a rouba de mim. Entretanto, acredite: se fosse me permitido escolher o que ser durante a minha estadia pela Terra, escolheria, sem dúvida alguma, ser anjo novamente, não apenas por causa da aparente liberdade concedida pelas asas,  menos ainda por causa do estonteante brilho da auréola, mas porque lhe é dispensável a presença daquilo que bate e nos bate, e que carinhosamente batizaram de coração.

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