Hoje eu acordei meio Cazuza: bem exagerado, mesmo. Trinta
minutos depois eu já era o Caetano Veloso, fazendo saudações à Sampa e ao
leãozinho. Em seguida já era Renato Russo, querendo colo e pensando em fugir de
casa. Depois foi a vez de me transformar em Tiziano Ferro, também, imbranato como sou, não poderia ser
outro. Pouco mais tarde engoli meu orgulho, já que odeio o inglês, e virei o
James Blunt, e claro, cometendo the same
mistake de sempre. Cinco minutos depois eu já era o Chano Moreno
Charpentier, cantando Arruinarse e querendo
ver el brillo de tus ojos rojos. Depois
vieram os teóricos: primeiro, como já era de se esperar, Sigmund Freud, com
suas geniais teorias sobre a estrutura do aparelho psíquico. Piaget também não
ficara de fora, e por um segundo eu quase compreendi o diacho de sua
epistemologia genética. Pouco depois eu já era uma mistura homogênea de
Vygotsky, Wallon e Reich, e foi nessa hora que eu interagi afetivamente comigo
mesmo e me dei conta da minha potência orgástica. Onze minutos depois eu já era o
Capovilla, mas não entendia nada de dislexia nem da neuropsicolinguistica
cognitiva, apenas do método fônico e um pouco de libras. Logo em seguida foi a
vez de Skinner e Pavlov, e me pus a condicionar tudo o que estava ao meu redor,
exceto meu coração – este já nascera
condicionado a se apaixonar por quem não presta. Por volta do meio dia vieram os
escritores: de Caio Fernando a Fernando Pessoa, da pessoa do Paulo Coelho ao
coelho fabuloso de Lewis Carroll. Também interpretei Sartre, citei Nietzsche e Voltaire,
e cheguei a sentir o pulsar do coração delator de Edgar Allan Poe ao ver os
olhos que fitaram Kafka quando este era ponte e despencava no abismo. Às três
da tarde sentei no tapete de minha sala e, com um pincel grosso na mão, pintei
a Monalisa em estilo cubista, Viva La Vida em cores barrocas e a Capela Sistina
em traços abstratos e em tons fauvistas. Por fim, vieram os (as) maiores revolucionários
(as) que prezo: de Harvey Milk a Martinho Lutero, de Nelson Mandela a Jesus
Cristo, de Olga Benário a Joana D’Arc. MEU DEUS!, COMO O DIA É REALMENTE
GRANDE!
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