quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O TRIPÉ QUE SUSTENTA O DISCURSO CONSTRUTIVISTA BRASILEIRO


Muito se tem falado em construtivismo e pouco se tem discutido. Há, dentro do campo educacional, principalmente nos cursos de pedagogia, uma aceitação generalizada e uma espécie de convertimento à “doutrina” pedagógica em questão, a qual, dentro desses mesmos cursos, é sustentada por três teóricos distintos (ou seriam semideuses?), são eles: Jean Piaget, Lev Semenovich Vygotsky e Henri Wallon.
Em síntese, pode-se afirmar que a ênfase de Piaget está voltada mais para a parte biológica do sujeito e, consequentemente, a maturação cognitiva de que ele tanto falava, sem deixar de lado, entretanto, aspectos ligados à psique humana e a socialização; Vygotsky, como contrapartida, enfatizava a interação social e a cultura produzida pela humanidade; e, por fim, Wallon, o qual dava grande ênfase à afetividade.
É válido ressaltar que o construtivismo foi formulado por Jean Piaget, o qual, tendo a biologia e a psicologia como formações acadêmicas, focou-se nessas duas áreas do conhecimento para elaborar sua tese, porém favorecendo e enfatizando os aspectos biológicos do sujeito, cabendo frisar ainda que em momento algum a teoria construtivista fora pensada sob a óptica da pedagogia, o que, por sua vez, já é um tanto contraditório que tal abordagem teórica tenha se difundido, do modo como se deu, no cerne da pedagogia e, portanto, na educação.
Paradoxalmente o mesmo autor que incluíram como adepto a esta corrente teórica, critica, em diversos estudos publicados, a tese pertencente ao pai do construtivismo, ficando um pouco confuso de se entender o porquê de Vygotsky estar associado a essa dada teoria piagetiana. Mas como na educação os paradoxos também andam de mãos dadas com as contradições, desde que os interesses em jogo se reforcem e se complementem, sigamos um pouco mais adiante com a reflexão acerca do tripé que sustenta o discurso construtivista brasileiro – digo brasileiro por não saber se em outros países tal disparidade pedagógica acontece destarte.
A partir das ideias anteriormente apresentadas, considero extremamente necessário fazer três afirmações, as quais, para alguns construtivistas de plantão, poderão soar como heresias aos seus “dogmas”:
1ª – É claro que a teoria piagetiana é importante na compreensão do sujeito quanto um ser bio-psico-social, mas a escola, como um ambiente democrático e redutor de injustiças, não pode negligenciar, aos seus alunos, os conteúdos acumulados histórico e culturalmente ao longo dos anos, muito menos transformar o professor em um mero mediador do processo educacional – se reduzi-lo a esta mera prática (docente?), reduzir-se-á, por conseguinte, toda a sua formação acadêmica bem como a sua profissão;
2ª – É evidente que a ênfase Walloniana é imprescindível na educação e na práxis docente, porém a escola, como ambiente educacional e não assistencialista, não pode ser reduzida ao afeto – não que este não seja importante, mas é que além do afeto em si, há, teoricamente, um currículo pedagógico a ser cumprido, o qual não permite demasiado sentimentalismo;
3ª – É óbvio que algumas propostas da abordagem sócio-interacionista vygotskyana são importantes durante o processo de aprendizagem, entretanto a escola não pode ser restringida apenas a um espaço promovedor de interação social, tendo em vista que há disciplinas a serem lecionadas, e, dentro delas, conteúdos a serem ensinados, e não simplesmente “construídos”, como pregam os construtivistas. Caso o papel dos alunos limitasse à socialização, a existência da escola, como espaço físico, não seria necessária, já que é de conhecimento geral que um simples computador ou até mesmo um celular, conectado à Internet, ocupa tal tarefa de modo esplêndido – bem melhor que a própria escola, por sinal.
Ainda complementando o que diz respeito à função do professor na vertente construtivista, faz-se necessário apresentar, aqui, os seguintes questionamentos: ao tornar-se um mediador do processo educacional, tal profissão não seria descaracterizada? E essa suposta mediação restringe-se apenas às modalidades de Educação Infantil e Fundamental? Já que, segundo a concepção construtivista, se pode mediar o processo de “ensino-aprendizagem” nos níveis de ensino mencionados anteriormente, poder-se-ia mediar, do mesmo modo, as aulas aplicadas nos Ensino Médio e no Ensino Superior? Como é que se media uma aula de física quântica? E de anatomia? E uma aula de cirurgia cardiovascular? E já que, de acordo com a visão de Piaget, o sujeito aprende por meio da experiência, como um estudante de astronáutica construiria o seu conhecimento de bioastronomia? Indo a outros sistemas planetários? Visitando outras galáxias? Trocando emails com extraterrestres? Como calcular, por exemplo, as diferentes razões de seno, cosseno e tangente dentro da proposta construtivista? E no que concerne a valorização profissional do mediador, os governos, ao se darem conta dessa transformação, não o remuneraria com uma quantidade inferior em relação àquela que é paga, atualmente, a um professor? Ao se metamorfosear em um mediador, o mesmo não seria reconhecido, capitalisticamente falando, por um salário condizente como tal? Quanto às faculdades e universidades que oferecem cursos de pedagogia, não seria necessário formar seus mestres e doutores, em um curso construtivista, para se transformarem em mediadores? Para formar mediadores não serão necessários outros mediadores? Professor forma mediador? Quem formaria, na íntegra, um mediador? Piaget? O pai do construtivismo foi, de fato, um mediador? Quem o formou? Professores ou mediadores? Estas e outras perguntas são questões intrínsecas aos dogmas construtivistas, dogmas estes que, quando questionados, levantam discussões enriquecedoras, porém nem sempre producentes, já que esta alienação pedagógica é favorável àqueles que controlam as classes sociais inferiores, e, portanto, à hierarquização; dogmas esses que, se aceitados, por todos, desqualificarão ainda mais a educação de modo geral, tendo em vista que os níveis de ensino são subsequentes.
Outro grande problema do discurso construtivista está também ligado aos cursos de formação de professores, muitos dos quais, não satisfeitos com apenas a disciplina de didática a ensinar a técnica de ensinar, voltam suas diferentes metodologias para o mesmo princípio da disciplina mencionada agora pouco, ficando esses futuros profissionais sem saber direito o que ensinar, e, por ausência de métodos nas disciplinas de metodologias, também não aprendem como ensinar.
Outro ponto que merece reflexão diz respeito ao aprendizado do professor com o aluno, ou seja, há, dentro dessa mesma corrente, uma suposta inversão de papéis, cujo aluno passa a ensinar ao professor, já que o processo de aprendizagem discente é rebatizado de ensino-aprendizagem. Não restam dúvidas quanto ao fato de o professor aprender com seus alunos, principalmente com a subjetividade das experiências pessoas de cada um – sendo esta subjetividade, portanto, fruto do senso comum –, mas tomemos cuidado para não sermos hipócritas e simplórios ao afirmar que tais contribuições, feitas pelos alunos, se encontram arraigadas em bases sólidas e científicas, em exceção, talvez, às dos alunos do Ensino Médio e do Ensino Superior, o que, hipoteticamente, poderá acontecer. 
Diante de tudo o que foi explanado, conclui-se que o construtivismo brasileiro é uma espécie de corrente pedagógica híbrida, composta e sustentada por diferentes concepções teóricas, as quais, em parte, se contrapõe – como é o caso da discrepância observada entre Piaget e Vygotsky –, todavia vale ainda dizer que o mesmo é incongruente para com uma educação metódica, democrática e organizada, portanto, assim como o Parâmetro Curricular Nacional de Língua Portuguesa voltado ao ensino de 1ª e 4ª séries, o construtivismo, da forma como se apresenta, não passa de confusão didático-metodológica que proporciona o esvaziamento das aulas.

Obs.: Baixe aqui o artigo acima (p. 12). 

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