domingo, 20 de maio de 2012

ENSAIO SOBRE O SILÊNCIO ACADÊMICO

Dedico este texto à Rita Cássia Cardoso Pina, pela sua ousadia e audácia diante dos alienados.
Em memória de Paulo Freire, aquele que jamais se silenciara diante da opressão.

“Já foi dito que palavras são mortais. Eu diria que palavras são incertas, mas as certeiras podem ser fatais.” (Marcelo Melo Soriano)

 “O teu silêncio é um leque – um leque fechado, um leque que aberto seria tão belo, tão belo.” (Fernando Pessoa)

Você já chegou a ponderar o fato dos mortos não falarem? É sério, esta questão tem me intrigado muito, e confesso que até me parece banal, mas não é! Pensando a respeito disso, depois de eu ter feito a faculdade, na qual estudo, de laboratório, ou, em outras palavras, depois de eu ter feito uma pequena análise sobre esse tema, utilizando, para isso, cobaias laranjas, cheguei à conclusão de que morrer é calar-se. Disto você não duvidava, verdade? Nem eu. Entretanto o ápice da minha “pesquisa de campo” se resume em comprovar que o inverso, ou seja, calar-se enquanto se está vivo, é apenas um ensaio para aquilo que, inevitavelmente, nos espera em algum ponto do tempo.
Assim como morrer é calar-se, do mesmo modo calar-se é morrer. E o que me parece mais triste, na vida, é isso: viver a própria morte.
O grande objetivo do opressor, além de alienar os seus alvos, é calá-los, até porque a opressão se abrevia a isso: SILÊNCIO.
Portanto, não se cale, por nada nem ninguém, afinal a nossa estadia por aqui é imprevisível e curta demais para nos permitir tal desperdício vocálico. No entanto, não fale tudo o que você pensa, falo isso porque se fôssemos dizer tudo o que desejamos, certamente iríamos passar uma temporada de férias na cadeia, ou em um sanatório – neste último caso até que poderia ser uma experiência enriquecedora, visto que estaríamos em contato com pessoas verdadeiramente normais.
Acredito que a reflexão-crítica, por parte do oprimido, voltado ao seu problema, constitui o primeiro passo rumo à liberdade; o segundo passo, em minha opinião, talvez seja a exteriorização dessa análise, o que pode ser feita por meio da escrita, do desenho, da linguagem corporal ou verbal, mas em todos esses casos a palavra ocupa o papel primordial diante da libertação do sujeito; não cogitei, o bastante, o que poderia ser a terceira etapa contra a opressão, porém atrevo-me a dizer que a união dessas pessoas, constituindo, desse modo, um só grupo, o grupo opresso,  juntamente com a coragem e a ousadia, constituem a chave que lhes tiram do poder do opressor.
Mais uma vez reforço a importância de não se calar: mesmo que você seja visto como o crítico-negativista-prepotente, fale! Fale sempre. Não venda a sua voz por nada, muito menos por um trabalho medíocre, um programa de caráter filantrópico, um artigo científico publicado em seu nome, balinhas, ou qualquer outra coisa que tenha a intenção de lhe silenciar. No capítulo 18, versículos 9 e 10, Atos dos apóstolos diz: “não temas, mas fala, e não te cales; porque Eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal.”
Por fim, cito uma frase de Renato Russo, encontrada na letra de “Aloha”, a qual sintetiza o que senti diante da análise acadêmica que fiz: “meus amigos parecem ter medo de quem fala o que sentiu, de quem pensa diferente, nos querem todos iguais, assim é bem mais fácil nos controlar, e mentir, mentir, mentir...”.


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