domingo, 11 de dezembro de 2011

MEU EPITÁFIO

Eu queria ser uma poesia, ou até mesmo uma crônica, contanto que fosse simples e breve, e com palavras que não precisasse do dicionário para saber os seus respectivos significados.
         Eu queria ser um poema, ou quem sabe ainda um conto, bem simplório e desesperado, mas que trouxesse esperança, e que fosse construído em uma linguagem bem caipira.
         Eu queria ser um texto com uma textura suave, que fosse como um tecido leve e confortável sobre a pele áspera e rugosa das minhas palavras envelhecidas pelo tempo, e que fosse escrito em um pedaço de papel amarelado ou em um pergaminho perdido dentro de uma sinagoga perdida no tempo, ou, quem sabe, ainda, ser uma manada de versos selvagens escritos no verso de uma prova de matemática –– aplicada no meu tempo de colegial.
         Eu queria ser um punhado de palavras perdidas e incoesas que grudassem ideias, feito chiclete em sola de sapato, em pensamentos pegajosos e, posteriormente, interligassem frases contemporâneas, também perdidas e incoerentes, em frases anacrônicas.
         Eu queria ser um conjunto de frases que parassem em meio ao nada para somente explicar paráfrases inexplicáveis.
         Ah, meu Deus, por favor, não me transforme em estrela quando for chegada à hora de eu fechar os meus olhos para dormir o meu sono profundo, nem me prenda no vasto céu nem me deixe a nadar no temível lago de fogo! Por favor, meu Deus, permita-me apenas ser transformado em um poema fúnebre, mas que este esteja vivo, e que o mesmo possa ser gravado em minha lápide, abaixo da estrela e da cruz esculpidas no mármore, para que nunca se esqueçam que o meu maior orgulho na vida foi ter sido poeta.

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