sábado, 11 de maio de 2013

DIA DAS MÃE PEDAGÓGICO


Ontem, 10 de maio de 2013, eu comentei com a Cicera que ia chamar Julia para escrevermos uma carta do Dia das Mães. A Ci, aproveitando o nosso projeto de pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso (A Alfabetização Construtivista na Contramão do Ensino: uma análise política e pedagogia dos PCNs), incentivou-me levar Ju a escrever duas cartas: uma de modo convencional (a partir da cópia) e outra por meio da escrita espontânea (tendo como marco teórico A Psicogênese da Língua Escrita).
Pois bem, foi isso o que fizemos hoje pela manhã: liguei para Ju assim que ela acordou e contei-lhe do “projeto” (ela, por sinal, adora essa palavra), meia hora depois Julia já estava aqui em casa, com todo o ânimo.
Vale destacar um fato intrigante: minha irmã e Julia estavam trancadas dentro de casa, isto porque meu cunhado saiu para trabalhar e levou a chave dela, portanto, Ju teve que sair pela janela da cozinha, mas isso não atrapalhou em nada a nossa proposta de escrita: um cartão para o Dia das Mães.
A primeira etapa da confecção do cartão ocorreu como eu supunha, em exceção a um personagem do desenho, pois Ju desenhou também o avô dela, isto é, meu pai, o qual ela não chegou a conhecer (dia 30 de maio fará doze anos que ele faleceu).
Na verdade, eu gostaria de destacar três aspectos do desenho dela: o primeiro é a face do sol (quando eu era pequeno eu também o desenhava com olhos, boca e nariz, e isso eu acho muito lindo); o segundo diz respeito à flor, às nuvens e ao coração, pois eu não lhe dei nenhum modelo e ela desenhou de modo bem parecido; e, por fim, a família, a saber, ela desenhou seis personagens: a mãe, o pai, ela, a avó, o avô e eu, isto é, minha irmã, meu cunhado, ela, minha mãe, meu pai e eu, todos de mãos dadas (isto me recordou o poema do Drummond, de sua obra Sentimento de mundo, o qual diz: “O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”).


Depois que Ju terminou de desenhar a capa do cartão e escreveu o seu título (a partir, no entanto, da cópia de um modelo que eu lhe ofereci), partimos para a escrita do conteúdo do cartão: um lado foi reservado para a escrita espontânea, e o outro para a escrita alfabética.
Começamos pela escrita psicogenética, isto é, pautada nas pesquisas de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. Nesse momento, eu lhe perguntei o que ela gostaria de dizer à mãe dela, e ela me respondeu o seguinte:
– Mamãe, eu te amo, um beijo e uma flor.
Pois bem, pedi-lhe que escrevesse tal mensagem; primeiro ela hesitou, dizendo-me que não sabia escrever, mas depois de eu insistir, começou a imitar uma escrita convencional em letras cursivas, embora tenha assinado seu nome em letras de forma, tal como ela já aprendeu e memorizou.


Quando eu lhe pedi que lesse, houve uma confusão semântica, pois, onde supostamente estava escrito um beijo e uma flor, ela, ao “ler” para mim, disse-me que estava escrito beija-flor. Quando pedi que relesse, ela, como uma boa capricorniana, gritou:
– Já chega, Adivaldo!
A escrita convencional foi um pouco mais demorada, embora ela conheça bem as letras e já saiba reproduzi-las. No entanto, houve dificuldades para escrever o número dois (2), mas eu lhe ensinei, em outro papel, o desenho deste numeral, e, após algumas tentativas, ela conseguiu copiá-lo.


Depois, ao terminar de escrever, ela pediu-me que lesse, e, quando eu terminei de ler, ela perguntou:
– Cadê o beijo e a flor?
Eu lhe respondi que não tínhamos escrito, mas que ela poderia desenhá-los, aí ela desenhou uma flor, um coração (já que me disse que não sabia desenhar um beijo), e, seguindo o ritmo do entusiasmo, desenhou, novamente, nuvens e o sol “humanizado”.
Além do cartão, que foi o objeto central a ser produzido, esta intervenção pedagógica me fez perceber que, nesse caso, pelo menos com Julia, a cópia não traumatiza e não impede à espontaneidade, apenas molda uma escrita padrão. No entanto, quero deixar bem claro que a escrita espontânea é muito importante para o desenvolvimento criativo das crianças e para exporem, por meio de desenhos e de traçados, as suas emoções. Contudo, embora a escola possa, e deva, utilizá-la em diversas atividades, cabe a ela, também, ensinar a escrita convencional desde cedo, pois é a mesma que será cobrada mais adiante e é a partir desta que a escrita ganha seu caráter inteligível.
Embora eu defenda os preceitos do método fônico e não goste das propostas didáticas difundidas pela perspectiva psicogenética, por uma série de fatores que não convém relatar aqui, acredito que as pesquisas de Ferreiro, Teberosky e seus colaboradores são de grande valia para se compreender a escrita infantil, assim como as de Vygotsky, Luria e Leontiev.
Abaixo se encontram algumas fotos que tirei durante a confecção do cartão.
Feliz Dia das Mães!






Obs.: Percebi um interesse demasiado de Julia pelo til (~) da palavra mamãe, penso que isso poderá atrapalhar sua escrita, já que toda vez que aparecia a vogal a durante o restante da escrita da frase, ela me perguntava se era para colocar, ou não, o “bigodinho” (~) em cima da letrinha a.

Julia Oliveira Araujo, 4 anos e 4 meses de idade.




3 comentários:

  1. Eita Ed, O desenho que sua querida Julia fez , só comprova o quão o desenho,possui em essência, difusas possibilidades. E Em meio a tantos, observe como a Julia tentou reproduzir algumas imagens, que de alguma forma a conduziu a lembrar de coisas boas!(Claro ela sabe o que é bom ). Ela teve um raciocínio lógico e sequencial fantástico .
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    Agora imagina a Neurociência Explicando este maravilhoso caminho que aconteceu quando sua querida Julia simplesmente ...PENSOU... Demais Né?

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  2. A Cátia diria que você e um descarado kkkkkkkkkkkkkk, mas eu entendo as crianças nos deixam assim mesmo de queijo caído.

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  3. kkk Cicera.Só pode ser você!!!!!!!!
    ..... com essas suas manias de decorar até os pequenos detalhes que digo ,fala sério, como você faz isso em ? Mas O ED compreenderá sua entonação .... isso eu tenho certeza kk

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Assim que eu ler o seu comentário, responderei-o imediatamente. Grato pelo carinho.