terça-feira, 20 de março de 2012

UMA HISTÓRIA NEUROFONOPSICOPEDAGÓGICA

     Uma professora de Educação Fundamental I, sociointeracionista, responsável por uma classe com trinta e duas crianças, entre sete e oito anos de idade, pediu aos seus alunos que lessem a palavra escrita na lousa:


            Três quartos e meio desses alunos responderam, unissonantes:
            – Eu não sei ler, tia.
          – Tia, não! – berrou a sábia construtivista. E após se dar conta de que havia exagerado no tom de voz, explicou, afetivamente, como uma boa wallonionina: – É professora, meus anjinhos. Tia – continuou ela, interagindo como uma adepta do vygotskyanismo: – é a irmã da mamãezinha de vocês.
         – Pro – levantou, do fundo da sala, um brancinho raquítico – a letrinha do meio é o “U” do meu nome.
         – Muito bem, Huguinho, parabéns! – exclamou a professora, que nesse momento olhava para o restante da turma, como que vingada pela falta de “bagagem grafêmica” daqueles que se “negaram” a ler uma palavra tão bonita quanto aquela.
          Dois, de seus educandos, nada responderam: um tinha PC (Paralisia Cerebral) e o outro era cego (mas também, por enquanto – eu disse POR ENQUANTO! –, não sabia ler em braille). Porém, o mais extraordinário acontecera no momento seguinte: quando um aluno, capricorniano com ascendente em aquário, que se sentava sempre na frente – devido à sua deficiência –, falou:
         – Eu sei o que significa, professora – sua voz saíra um tanto grave demais, como se aquilo fosse algo novo para ele, e era! E toda a sala, com um olhar de espanto e admiração, se virou para ele (com exceção, apenas, aquele que não enxergava). E então, em ritmo descompassado e inquieto, ele continuou: – Significa mentira, ilusão, quimera, hipocrisia, senso comum, superstição alfabética e jogo político. Acertei, professora?
         Ora!, ninguém sequer ousara responder a sua pergunta. Nem mesmo a professora, ou tia, sei lá... E quem é que falaria mais alguma palavra naquele dia, depois de haver presenciado uma cena como aquela? Afinal, o tal menino era surdo nato. SURDO NATO, ouviu?! Mas a partir daquela hora, ele começou a falar, e a sala inteira ficara muda, inclusive a professora – algo que nem a medicina, muito menos a fonoaudiologia, tampouco, ainda, a psicologia (em exceção, apenas, a pedagogia) conseguem explicar.
         O tal fenômeno foi batizado de “cura construtivista com mediação neurofonopsicopedagógica”, e tem revolucionado várias áreas das ciências – inclusive a grade curricular de inúmeras universidades internacionais, como YALE, Harvard e Oxford.  
         Apesar do restante da sala estar indo super mal no que concerne às competências e habilidades em leitura e escrita, a professora continua com a aplicação de sua abordagem miraculosa: ela já consegue ver, pelos olhos de sua fé ferreiroteberoskyana, os seus outros dois educandos especiais curados de suas deficiências. Isso é que visão de futuro!

2 comentários:

Assim que eu ler o seu comentário, responderei-o imediatamente. Grato pelo carinho.