sábado, 15 de outubro de 2011

O SEGREDO DA INOCÊNCIA

Faz de conta que hoje não é um dia qualquer e que agora iremos fazer uma pequena viagem rumo a algum lugar.
Faz de conta que as palavras aqui presentes são passaportes mágicos e que os ônibus que pegamos diariamente são carruagens reais, e a quantidade enorme de pessoas banais que nos espremem são princesas, príncipes e sapos encantados.
Faz de conta que os moradores de ruas são cobradores de impostos romanos e que as esmolas que lhes damos são pequenas pepitas de ouro escavadas na mina do coração.
Faz de conta que em cada um de nós há um pouquinho de Freud, que clinicamos em paupérrimos orfanatos e que temos a consciência de que as perguntas desconcertantes das criancinhas são inerentes a um roteiro invisível escrito em seus inconscientes.
Faz de conta que o construtivismo não existe, que a nossa educação não está sendo destruída, que as nossas crianças estão sendo alfabetizadas, que os professores não são super-heróis e que os pedagogos são pessoas normais – e não alienígenas polivalentes.
Faz de conta que o bebê e o boi não babam, que Eva e Ivo não viram a uva e que o lúdico na educação infantil é inundar a sala de aula com uma Tsunami literária.
Faz de conta que as nuvens brancas são feitas de algodão-doce e que as negras são de brigadeiro, e quando Deus chora – ai que delícia! –, são pequenos flocos de chocolate que caem do céu.
Faz de conta que tudo o que fica não é passageiro, que os sonhos não são insolúveis e que as lembranças com cheiro de risos, beijos e taquicardias não se dissolverão quando a eternidade chegar ao fim.
Faz de conta que o tempo é um corcel preso em uma ampulheta blindada, que os seus cascos não estão sangrando devido às inúteis tentativas de fuga e que as vibrações dos seus relinchos não se propagam no exterior do seu recinto.
Faz de conta que todo faz de conta não é uma esquiva comportamentalista da imaginação humana, e faz de conta também que o capitalismo não existe, que você não é apenas um mero número no mundo e que as instituições privadas de ensino não são míseras empresas.
Faz de conta que todas as pessoas são felizes, que as psicoses não estão mais em alta, que a bola da vez é o amor ao próximo e que a temporada de caça aos arco-íris está terminantemente proibida – SANTO FAZ DE CONTA!
Faz de conta que a corrupção entrara em extinção, que as fogueiras da Santa Inquisição nunca existiram, que há décadas não escutamos os clamores dos que têm fome e que já não mais fabricamos produtos bélicos.
Faz de conta que o segredo do código genético se encontra na fantasia do faz de conta e que a vida é um faz de conta com direito a “era uma vez”, “espelho, espelho meu” e “felizes para sempre...”.
Faz de conta que tudo na vida é um faz de conta, e que é só fazer de conta que tudo realmente acontece...

Um comentário:

Assim que eu ler o seu comentário, responderei-o imediatamente. Grato pelo carinho.