terça-feira, 14 de outubro de 2014

O OVO, A RAPOSA E A GALINHA



“Como o mundo, o ovo é óbvio.”

(Clarice Lispector)

No limite,
Pouco me importa
A discussão acerca
Da busca pela mono ou pluricausalidade
Dos fenômenos sociais.
Melhor:
É-me indiferente
A ciência que tem como fim último
Explicar se quem veio primeiro
Foi o ovo ou a galinha.
Interessa-me, sobretudo,
Entender o porquê
De terem se apropriado,
Privadamente,
Dos ovos da galinha.
E mais:
O que permite legitimar tal apropriação?
Perguntam:
– Quem veio primeiro:
O ovo ou a galinha?
A galinha ou o ovo?
A ordem dos fatores não altera a propriedade privada.
Até porque, veja bem:
Pode-se construir um tipo ideal,
Tanto do ovo quanto da galinha,
Do mesmo modo como se pode contemplar,
Objetivamente,
O fato social em questão.
E aqui aparece a querela metodológica:
A luta pelo monopólio científico da explicação.
Enquanto isso,
As raposas expropriaram o galinheiro das galinhas,
E estas, a partir de agora, são livres como pássaros.
Subjugadas à liberdade,
Não podem voar, porém,
Posto que lhes cortaram suas asas.
Das discussões acerca da gênese do ovo,
Da ontologia da galinha,
Da ética da raposa,
Do espírito do galinheiro,
Sobra muito pouco para socializarmos a omelete.

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