Tudo o que ela queria era apenas um sexo bem feito, uma boa
noite de sono, café da manhã preparado por ele, um SMS agradecendo o louco final
de semana e um Marlboro entre os dedos.
Essa é a Antía, neta do Velho Berreiro,
filha da Galícia, amiga do funk, amante
do povo brasileiro.
Com ela sorrimos, choramos, bebemos, fumamos, cantamos,
dançamos, estudamos.
Com ela aprendemos a desconstruir nossos preconceitos de
classes, nossos medos de andar nas ruas à noite, nossa insegurança diante do
novo.
Com ela fomos ao risca faca, cantamos Imagine, dançamos La bamba,
fizemos pesquisa antropológica, produzimos etnografias urbanas.
Com ela aprendemos a diferença crucial entre ser puta e ser
desapegada, aprendemos a dançar conforme o ritmo da batida, a ignorar o bonitão
que nos ignorou.
Com ela aprendemos a beber auga e a diferenciar cafezinho vagabundo de café com glamour. Aprendemos que a felicidade
está a dois passos da loucura, justamente na divisa que separa o cotidiano do
desconhecido.
Com ela aprendemos a enxergar o Brasil. Sim, o nosso Brasil!
Pois até então só tínhamos o visto superficialmente, e ver não é o mesmo que enxergar.
Em breve, daqui a algumas horas, nossa Doña estará voltando para
o hemisfério norte, levará consigo recordações e amizades para toda uma vida.
Sentiremos muito a sua falta, Antía, principalmente na quadra
da Unifesp, no bar da esquina e no Red Bar. Já dizia o nosso grande poeta
brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, que de tudo fica um pouco. Sim, um
pouco. Não muito, apenas um pouco. E esse apenas um pouco aperta o coração, dá
um friozinho na barriga, faz dos olhos cachoeira e brota em nós a certeza que
esse pouco não é tão pouco assim.
Agradecemos por tudo.
Com amor, a galerinha das Ciências Sociais.
Vocês e suas pesquisas Antropológicas risos. Beijos Lane
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