quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

MACHUCADOS


Em memória de Jorge Amado.


Jamais aponte o dedo na cara da ferida-humana e diga “você é o culpado!”. Ora, como disse, é só uma ferida, quase sempre inflamada, putrificada, a jorrar pus na cara da gente.
Este teu dedo apontado, suponho que o indicador, impede-te de ver a gênese do machucado, as balas perdidas, os insultos achados, as pauladas pedagógicas ganhadas a troco de nada e o olhar frio e usurpador dos verdadeiros culpados.
Agora, que já sabes o outro lado da verdade – porque a verdade é multifacetada –, aprende, de uma vez por todas, e sem drama, que temos nossa parcela de culpa na produção de chagas-humanas.
Lembra-te, sempre que possível, sempre que a pós-modernidade esquecer de te engolir, que os ditos métodos corretivos aplicados pela “Justiça”, as casas de recuperação, os reformatórios e os abrigos de reclusão social nada mais são do que indústrias a fabricarem feridas-sociais das quais te falo.
Cuidado, muito cuidado com o teu dedo apontado. Não te esqueças, em hipótese alguma, que nada mais são do que feridas malogradas, não passam de reles machucados – às vezes putrificados, sujos, abandonados, ausentes de carinho, desconhecedores da compaixão, vítimas de seus próprios crimes praticados, mas sempre machucados. 

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