sexta-feira, 26 de abril de 2013

VIRTUDES SEM VÍRGULAS


"A Burguesia não repara na dor da vendedora de chicletes."
(Cazuza, in Burguesia)



Eu falo
Eu dito
Eu mando
Eu grito
Eu comando
Eu decido
Eu mato
Eu ressuscito
Eu submeto
Eu obrigo
Eu sanciono
Eu autorizo
Eu canto
Eu conto
Eu vendo
Eu compro
Eu tramo
Eu nego
Eu clamo
Eu sonego
Eu escrevo
Eu divinizo
Eu transcrevo
Eu demonizo
Eu prescrevo
Eu beatifico
Eu proscrevo
Eu canonizo
Eu defino
Eu defiro
Eu protejo
Eu firo
Eu julgo
Eu prendo
Eu crucifico
Eu condeno
Eu absorvo
Eu exploro
Eu salvo
Eu controlo
Eu ignoro
Eu ridicularizo
Eu ordeno
Eu moralizo
Eu discurso
Eu midializo
Eu expurgo
Eu valorizo
Eu conceituo
Eu justifico
Eu atuo
Eu mistifico
Eu altero
Eu hegemonizo
Eu adultero
Eu institucionalizo
Eu condiciono
Eu criminalizo
Eu sufoco
Eu finalizo
Eu rio
Eu moldo
Eu calculo
Eu podo
Eu conservo
Eu privatizo
Eu inovo
Eu tradicionalizo
Eu voto
Eu elejo
Eu cego
Eu vejo
Eu brigo
Eu formo
Eu apazíguo
Eu deformo
Eu silencio
Eu reformo
Eu imponho
Eu transformo
Eu faço
Eu falsifico
Eu disfarço
Eu autentico
Eu inverto
Eu esqueço
Eu ilumino
Eu obscureço
Eu agencio
Eu imperializo
Eu negocio
Eu globalizo...
Você?
Você se vende a mim
E eu sugo sua mais-valia,
Aplico-a na Bolsa de Valores
E você paga minhas regalias.
Ainda não sacou quem eu sou?
Puta que pariu, eu sou a Burguesia!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

É SÓ O HOMEM


Onde você vê maldade,
Eu vejo o homem;
Onde você vê bondade,
Eu vejo o homem;
Onde você vê o Diabo,
Eu também vejo o homem;
Onde você visualiza Deus,
Eu continuo a ver o homem;
Porque, afinal, é isso o que somos:
Uma mistura de forças humanas antagônicas.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

FÉRIAS

Às quatro e vinte da madrugada de hoje, três minutos antes do clímax que deixou minha mão pegajosa e molhada, eu descobri uma verdade absurda, quase que grotesca, dentro de mim.
Eu havia acabado de despertar de mais um sonho rotineiro, quando, de repente, antes mesmo de eu dar corda aos meus devaneios de rapaz solteiro, pensei assim: “homens como ele não se casam: firmam contratos sociais e tiram férias de si mesmos”.
A princípio não dei nenhuma importância a tal verdade absurda, afinal nada me pareceu ser além de uma simples frase, diria até que um agregado de palavras que no fundo, no fundo não passam de míseros grafemas e fonemas. No entanto, essas mesmas míseras unidades gráficas e sonoras, quando contextualizadas, fazem emergir em mim um punhado de emoções ilusoriamente recalcadas. E é por causa delas que aqui me encontro novamente: escrevendo para espantar as emoções que insistem em me perseguir. Escrevo para tentar, inutilmente e mais uma vez, afastá-las de mim. Escrever foi a maneira que encontrei para preencher o rombo que ficou depois que ele se foi.
O que me conforta, porém, é saber que homens como ele não se casam, apenas, como eu já disse, tiram férias de si próprios.
Boas férias!