Segundo a “psicologia
cristã” a homossexualidade tem cura. Será que há cura, também, para a
homofobia?
sexta-feira, 20 de julho de 2012
SOBRE O DESCOMPROMETIMENTO POLÍTICO
Há infinitas formas de matar um ser humano. Negar os seus direitos é apenas mais uma variação delas.
ELES
– Por que você tem medo de mim?
– Eu sempre temi os palhaços, tanto que, uma vez, quando eu
tinha seis anos de idade, um bando deles foi visitar a escola onde eu
estudava, e ao vê-los, com aquele sorriso cínico e forçado nos lábios, corri
para dentro do banheiro e me tranquei. Depois de um tempo, ao ter a absoluta
convicção de que eles haviam ido embora, sai. Foi depois disso, eu acho, que o
banheiro, para mim, passou a representar uma fortaleza, minha segurança.
– Mas quando estávamos na quinta série você não me temia.
– Naquele tempo você ainda não era um palhaço integral. A
mutação ainda não havia ocorrido plenamente, você não passava de um protótipo,
apenas.
– Você é louco! Está vendo algum sorriso cínico, pintado de
guache, em meus lábios?
– Não nos lábios. Você o tatuou em seus olhos. Seus olhos são
duas bocas que me deixam em alerta. São dois sorrisos escandalosos que riem de
mim e me fazem entrar em pane.
– Está com medo?
– Um pouco.
– Mas você não os temia quando eu lhe beijava.
– Porque você fechava as bocas dos olhos. Você cerrava os
olhos das bocas.
– E por que se entregava a mim?
– Nem só as mulheres se entregam por medo.
– Ah, medo! Então é isso..., medo! Está sentindo medo agora?
– Agora não mais.
– Por quê? Ora, eu vou te beijar a força!
– Por isso mesmo...
– Não entendi.
– Quando você me beija, fecham-se, dentro de você, dois
calabouços repletos de monstros, os quais sempre estão a sorrir cinicamente
para mim.
– Meus olhos não são bonitos?
– Os mais lindos do mundo!
– Então...?
– Então...
– Acho que você deveria procurar um psicólogo, essa sua neura
não é normal.
– Não tenho coragem, todos que conheço possuem sorrisos psicanalíticos
camuflados no inconsciente, e estes são os piores, porque quase não dão para
ver.
– Como você tem consciência do que há no inconsciente deles?
– Introspecção alheia.
– Comunicação pelo córtex?
– Quase isso.
– Você está mudando de assunto.
– Você mudou muito desde a oitava série!
– Foi a partir daí que, para você, eu me transformei em
palhaço?
– Não. Só no início do primeiro ano foi que a mutação ocorreu
cem por cento.
– Do Ensino Médio?
– Do médio ensino.
– Tem alguma diferença crucial na ordem das palavras?
– Bastante!
– Chega de conversa: agora eu quero você!
– Você já me tem.
– Onde?
– Dentro dos sorrisos dos seus olhos. Sou prisioneiro deles.
– Está querendo dizer que me ama?
– Não se pode amar verdadeiramente um palhaço.
– Por que não?
– Porque vocês nunca são aquilo que aparentam ser.
– E o que é que eu aparento ser?
– O contrário de um palhaço.
– E o que seria esse avesso?
– A segurança do meu banheiro.
– Você é engraçado!
– Está me chamando de palhaço?
– Isso seria uma insulta ou ofensa?
– Aquilo que não tem graça não pode me insultar, menos ainda me
ofender.
– Oh! E se um palhaço entrasse em seu banheiro?
– Eu o mataria.
– Você não teria coragem...
– O medo nos dá coragem para tudo, inclusive para enfrentar o
peso da morte.
– E qual é o peso da morte?
– O mesmo que o dos seus dois calabouços fantasmagóricos.
– E é pesado?
– Só eu e o meu banheiro sabemos o seu verdadeiro peso.
– E se fosse eu a entrar em seu banheiro?
– Eu teria que fugir...
– E posso saber por quê?
– Porque não posso lhe matar.
– Como não? Eu sou um palhaço, lembra? O medo dá coragem para
tudo!
– Eu não tenho medo de você, só dos seus olhos, apenas, por
isso evito fitá-los.
– Mas, se não os fita, como poderá ver aquilo que eu sinto
por você?
– O que você sente não tem importância para mim.
– Contenta-se apenas com meu beijo de olhos fechados?
– O que eu sinto por você já faz de mim um homem contente.
– E meu beijo, não?
– Ele apenas me complementa.
– Então se aproxime mais um pouco... Encoste seus lábios aos
meus e eu lhe farei um homem completo.
– E o que lhe complementa?
– Este seu nervosismo, seu amor reprimido e a luz
esquizofrênica que sai de você e ilumina meus cárceres monstruosos.
Beijaram-se por uma eternidade e com volúpia. E para um
deles, a volúpia e a eternidade cheiravam a pasta de dente de hortelã, para o
outro, é claro, ambas cheiravam a Pinho Sol.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
NATUREZA VIVA
Caeiro, há
sóis em meu chuveiro
Que fabricam
flores de espuma, mas sem talo.
Há rebanhos
incontroláveis em meu banheiro
Que vão se embora, junto com a água, pelo ralo.
JHONE
Faz poucas horas que ele saiu de casa
e já sinto uma saudade enorme, é como se alguém tivesse me tirado um livro que
li, reli, grifei e guardei em minha estante. Ele se foi. Foi para a Bahia,
brincar nas terras secas de Várzea do poço e fazer chover a alegria.
Não existe nada nesse mundo igual a
ele, e sei que, para quem não o conhece, pode até parecer extremo exagero de
minha parte, mas falo sério.
Freud foi enorme; Jung, um gigante; Reich,
um visionário; Marx foi imenso; Einstein, um louco brilhante; mas Jhone é maior
que todos estes, porque respira pureza.
Não sei se Jhone é uma criança com a
racionalidade de um adulto, ou se é um adulto no corpo de uma criança, porque, ouvindo-o
falar de suas teorias, não me parece ter apenas oito anos de idade.
Ele é puro, mas não é tolo; é
vaidoso, mas não metido; é teimoso, mas sabe reconhecer seus erros; é sensível,
mas não é fresco; é crítico e irônico, mas não é arrogante e prepotente; é
geminiano, mas não demonstra ter dupla personalidade.
Pensar e ir são os seus verbos, e até
sobre o Verbo ele já formulou suas próprias hipóteses. Amo o meu Deus de todo o
meu coração, mas ultimamente tenho preferido Jhone, porque, para mim, ele é
mais puro e nítido, e a obscuridade do Criador me incomoda e O afasta de mim.
O amor que sinto por Nonô é diferente
de todos os outros que já provei: não é apenas amor de amigo, nem amor de primo,
muito menos amor carnal: é diferente, e puro e belo e simples. Nem sei mais do
que estou falando, a saudade é tanta que, agora, nessa hora, quero apenas
guardá-lo aqui, em meu blog, como se fosse possível trancafiar a sua grandeza em
algum lugar. Não dá. Não cabe. Ele é maior que as palavras.
O mundo me parece feio, hipócrita e
sujo, mas quando Jhone me conta seus sonhos e pensamentos, o mundo parece ganhar
algum sentido.
Se cinquenta e um por cento do mundo
fosse composto de “Jhones”, Jesus Cristo não precisaria retornar a esta terra,
e poderia descansar para sempre.
Entretanto, há divergências também
entre a gente: por ser tão teimoso e inteligente, sugeri que estudasse até conseguir
entrar no curso de medicina de Harvard,
mas ele respondeu que quer ser apenas motorista de caminhão e cowboy, nos finais de semana. Suscito
assim, não poderia ser outro.
Estou com muita saudade do meu
pequeno, tanta que vou sair agora, da Internet, e assistir Harry Potter, nosso bruxinho favorito.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
SOBRE O CÉU E O INFERNO
“Religião é uma coisa excelente para manter as pessoas comuns quietas.”
— Napoleão Bonaparte
Em minha opinião mais de 90% dos crentes, hoje em dia, não são cristãos, são apenas pessoas ingênuas que temem desesperadamente o inferno e que sonham com a imagem de um paraíso que, por interesse pessoal, lhes pertence. Dos 10% restante, menos de 1% podem ser considerados, literalmente falando, protestantes. Contudo, acredito que quase 100% desses crentes, que se julgam cristãos, bem como também um número incalculável de católicos, protestam, de forma irracional e desumana, contra os direitos daqueles que não se enquadram no perfil bíblico vigente.
Ultimamente tenho pensado muito em questões como estas, e, não sei se por causa de uma aparente mutação cética que descobrir existir dentro de mim, ou se por conta de questões que ainda não compreendo, cheguei à conclusão – e que Deus me perdoei pelo que eu vou dizer – de que não quero passar a eternidade tocando harpa lá no céu.
Na verdade parece até heresia e blasfêmia, e talvez até seja, mas acho que sou muito ruim, ou bom demais, para me ocupar de um cargo tão angelical. Não! Não quero ficar no céu tocando harpa e cantando no coral dos anjinhos e das beatas de língua ferina.
Não sei, também, se quero ir para o inferno, mas penso que se for a única saída, talvez, assim como transformamos a Terra em um espécie de inferno mais evoluído, possamos (eu e quem para lá formos) transformar também, depois de milênios de civilização, o inferno em uma espécie mais caliente de Terra – exceto as larvas de fogo e o odor do enxofre, creio que não há mudanças drásticas separando um do outro: demônios existem em todos os lugares, até mesmo no céu morava um, conforme afirma as Escrituras.
Entretanto, se Deus me concedesse a primazia de me dar alguns livros para eu lê-los lá na Nova Jerusalém, quem sabe eu até quisesse ir morar no Paraíso. Contudo, creio que o Criador não gosta do meu gosto literário, mas quanto a isto estamos quites: também não gosto de algumas passagens da Bíblia, principalmente o abominável livro de Levítico – o qual, por mais que eu tente, não consigo compreender como Ele permitiu tal publicação, Poderia, caso quisesse, censurá-lo, mas não o fez, todavia é possível que Tenha seguido o princípio de Caeiro: “deve haver muita cousa, para termos muito que ver e ouvir”, ou quiçá seja por causa do chamado livre-arbítrio, que de livre só tem o nome.
Ainda, em hipótese, se Jeová me desse uma sala de aula no céu – não precisava ser grande, já que, segundo I Coríntios 6:9, quase ninguém entrará em Seu reino –, talvez eu desejasse acampar-me em Seu recinto sagrado, caso a minha didática fosse aprovada, claro! Porém, como sei que o Senhor não me deixará lecionar, em Sua universidade, a vida e as obras de Nietzsche, Saramago, Sartre, Marx, Freud, Reich, Feuerbach, provavelmente é melhor eu ir me acostumando com a ideia do lago de fogo e cantar, como fez Bon Scott: Living easy, livin' free (Vivendo fácil, vivendo livre) / Season ticket, on a one, way ride (Em rumo a uma estrada de mão única) / (...) Going down, party time (Partindo, é hora da festa) / My friends are gonna be there tôo (Meus amigos também vão estar lá) / (...) I'm on my way to the promise land (Estou no meu caminho para a terra prometida).
sábado, 14 de julho de 2012
QUESTIONÁRIO
O que você vê quando olha o que enxerga?
O que você escuta quando ouve o que fala?
A água lava tudo, mas quem lava a água?
O Criador criara o universo, mas quem O criou?
O universo é infinito. O infinito é de que tamanho?
Gosto de perguntas aparentemente sem sentido;
Gosto da vida.
SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA AS CRIANÇAS E OS JOVENS
Quem maltrata uma criança ou um jovem, maltrata o novo.
Quem abusa de uma criança ou de um jovem, abusa do novo.
Quem mata uma criança ou um jovem, mata um pedaço do futuro, mata o novo.
SOBRE A SALVAÇÃO
A vida, como me é apresentada, parece um vestibular no
qual você tem que passar para entrar na Universidade Celestial.
terça-feira, 10 de julho de 2012
JACOBINA
Quero tomar sorvete na Matriz
E comer acarajé na Missão,
Depois andar de Havaianas pelas ruas
E parar para descansar no Calçadão.
Quero fazer uma festa no Fiesta
E outras no Casarão,
Visitar, quem sabe, a Fazendinha,
E fazer sexo, no Serra de ouro, ao
som da Legião.
quarta-feira, 4 de julho de 2012
ALIENAÇÃO E HIPOCRISIA
Machado já
dizia que “palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro,
um governo, ou uma revolução”. Acredito piamente nesta frase, tanto que a parafraseio: alienação puxa alienação, uma hipocrisia traz outras, e assim construíram-se as igrejas, os partidos políticos, as pedagogias ditas construtivistas e a consciência do povo.
Alienação e hipocrisia: as matérias-primas da sociedade contemporânea.
Alienação e hipocrisia: as matérias-primas da sociedade contemporânea.
TANATOSCOPIA
Foi nessa de matar e morrer por você que eu assassinei e
deixei ser assassinado aquilo que mantém a humanidade viva: o sonho.
Pergunto-me quantos estão lá fora, agora, matando e morrendo
por algo que, na sua essência, já nasce morto. Não sei. Mas penso que se você
voltasse, assim, sem mais nem menos, só por voltar mesmo, talvez pudesse
ressuscitar-me da realidade.
Não, não tenho tanta certeza. Foi só um pensamento, mesmo.
Mas, falando sério, se você voltasse, acredito que algo dentro do meu cadáver
poderia também voltar... Quem sabe, até, voltar a viver.
Quem dera que fosse aquilo que a psicanálise diz existir
dentro da gente e que faz-nos sentir a vida pulsar, embora eu não tenha ainda
encontrado, por mais que procure, esse tal de eros que julgam viver dentro de
mim. Mas, se você voltasse, poderíamos até, quem
sabe, aperfeiçoar as teorias freudianas, o seus complexos de castração e de
Édipo, os mecanismos de defesa, refutar e atualizar – cronologicamente falando
– algumas fases psicossexuais postuladas por Sigmund e, em tese, criarmos
a terceira teoria do aparelho psíquico – heureca!
Volta... A ciência
precisa de nós. Eu preciso de você.
QUESTIONANDO-O
Justamente
por ser contrapor a Deus e questioná-Lo, diferentemente dos cristãos-passivos, é que os
ateus, em minha opinião, estão mais próximos d’Ele.
A DIVINIZAÇÃO HUMANA
Hoje eu vi
um cartaz, na fachada de uma igreja, anunciando uma explosão de milagres que
acontecerá neste final de semana; não me surpreenderia se acaso me deparasse
com outro, do mesmo caráter, a anunciar a salvação em tantas parcelas no MasterCard ou no Visa (quem sabe ainda no
Sorocred, o cartão dos menos
afortunados – ou serão desvalidos?). Se continuarmos assim, chegará o momento em que o sacro-marketing anunciará a venda
de fotos com Cristo – como aquelas que se tiram, em época de Natal, no colo dos
Papais Noéis.
Não tenho a absoluta certeza da onipotência de Deus, mas não tenho dúvidas quanto a prepotência daqueles que dizem representá-Lo.
RESPONDA QUEM PUDER, OU SOUBER...
Dizem que a voz do povo é a voz de Deus; Deus é um papagaio,
condicionado por uma técnica pavloviana, que vive a repetir frases simplórias e
irrisórias?
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